Sabem por que uma guerra é cada vez mais provável na Europa? Porque nem a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nem a Rússia irá ceder.
Após o colapso da URSS, em 1991, e o consequente fim da Guerra Fria, a Rússia mergulhou em sua década perdida, com crise econômica, política e de identidade. Foi um período de decadência e redução da importância da Rússia como ator internacional.
Só Vladimir Putin, um ex-agente da KGB, conseguiu, com seu jeito peculiar e autoritário de governar, ressuscitar a autoestima do país e recolocá-la no panteão das grandes potências a partir dos anos 2000.
No período em que o urso hibernava, a Otan se expandia para a antiga área de influência soviética, o Leste. Em 1999, eram 16 membros (14 deles europeus e dois americanos, os Estados Unidos e o Canadá). Naquele ano, enquanto Kosovo vivia sua guerra étnico-religiosa, a aliança atlântica abocanhava Hungria, Polônia e República Tcheca, ex-integrantes do finado Pacto de Varsóvia. Ato contínuo, veio Bulgária, Romênia, Eslováquia, Letônia, Lituânia e Estônia, em 2004. Cinco anos depois, a Albânia.
A partir do governo George W. Bush, mísseis e radares foram instalados em alguns desses países, como parte do projeto do escudo antimíssil. O Ocidente está, desde então, às portas da Rússia, o que, obviamente, Putin nunca engoliu.
Aliás, o conceito de fronteira, para os russos, não é exatamente o mesmo que para nós, ocidentais. O conceito está ligado ao que o Kremlin chama de "exterior próximo" - região que constitui, aos olhos russos, a legítima e histórica esfera de influência. O entorno russo, diga-se de passagem, situa-se exatamente onde estão os países que agora fazem parte da Otan. O status de grande potência, na visão de Putin, exige a consolidação da hegemonia regional no exterior próximo. Ao mesmo tempo, o elevado número de russos étnicos vivendo nas ex-repúblicas soviéticas é um meio de poder nas mãos do Kremlin para influenciar os vizinhos.
Assim, Putin quer as tropas da Otan longe de suas barbas, ou seja o retorno ao status pré-1999. Para a Otan, a ampliação é um processo irreversível. Com 100 mil militares instalados ao lado da Ucrânia, a invasão deixou de ser algo provável para uma questão de escolher o melhor momento. Depois do fracasso da reunião de segunda-feira entre os Estados Unidos e a Rússia, em Genebra, não é exagero afirmar que os tambores de guerra voltaram a soar na Europa.