Assim como no Brasil, também no Peru, a Lava-Jato provocou uma devassa na classe política e em suas relações suspeitas com empreiteiras. No vizinho andino, não sobrou um presidente de pé - todos os últimos seis foram presos, estão foragidos da Justiça ou respondem a processo por corrupção - um deles, Alan García, se suicidou quando a polícia chegou a sua casa para detê-lo.
Assim como o Brasil, também o Peru vive sua tragédia particular da covid-19, de proporções gigantescas - se aqui somos o segundo país do mundo em número de mortes totais pelo coronavírus, lá a nação é campeã global em óbitos pela doença na proporção a sua população.
Assim como no Brasil, também no Peru sucessivos escândalos políticos provocaram uma onda de descrédito da população nas instituições, que, potencialmente, podem erodir por dentro a democracia.
Assim como no Brasil, também no Peru a descrença na política tradicional erigiu figuras excêntricas, que se apresentam como nova política, mas que trazem consigo o mofo do que de pior a América Latina pariu nas décadas de 1990 e 2000.
Assim como o Brasil chegará à eleição de 2022 rachado entre discursos de extremos de direita e de esquerda: o Peru vive em 2021 sua eleição mais polarizada da história recente, em que candidatos buscam ganhar no grito, produzem narrativas falsas, desqualificam o adversário por redes sociais, legiões de seguidores fanáticos e robôs e denunciam fraudes não lastreadas pela verdade.
Cinco dias depois da eleição presidencial, uma enxurrada de desconfianças tem deixado a população peruana em suspense. Com 99,56% das urnas apuradas, ainda que tudo indique que o candidato da esquerda, Pedro Castillo (Perú Libre), seja o provável vencedor, não há como bater o martelo. Cerca de 70 mil votos o separam de Keiko Fujimori, da Fuerza Popular (conservadora).
A coalizão de Keiko apresentou recursos à Justiça pedindo a anulação de 802 atas de votação - espécie de relatórios que cada seção eleitoral produz ao final do pleito. Perú Libre fez o mesmo contra 209 atas.
Assim, estão em disputa no tapetão milhares de votos que, em uma eleição tão apertada como essa, podem determinar quem será o novo comandante da Casa de Pizarro. O pleito acabou na Justiça, cuja independência também é questionada.
Até nisso o Peru de 2021 tem a ensinar ao Brasil de 2022.