Uma frase de Donald Trump, ainda do debate de terça-feira (29), está trancada na garganta. Quando o moderador, Chris Wallace, lhe perguntou diretamente se estava disposto a condenar os supremacistas brancos, o presidente afirmou que sim e pediu que lhe dissessem quem devia condenar.
Joe Biden, o oponente, sugeriu os Proud Boys.
– Proud Boys, retrocedam e esperem – respondeu Trump.
Retórica trumpiana, teatro ou seja lá o que for: como assim "esperem"? Por que Trump tem tanta dificuldade em condenar, publicamente, grupos racistas, misóginos e anti-islâmicos?
Os Proud Boys (Garotos Orgulhosos) foram fundados em 2016, durante a campanha presidencial americana, pelo ativista de direita canadense-britânico Gavin McInnes. Só aceita homens, tem histórico de violência contra oponentes de esquerda e ampliou sua retórica nacionalista desde a manifestação do presidente.
O grupo é tão tóxico que a empresa Fred Perry, fundada pelo tenista tricampeão de Wimbledon em 1952, fabricante das camisas polo pretas e com as inconfundíveis listas amarelas, eliminou sua peça mais vendida de seu acervo na tentativa de acabar com a apropriação.
– Fred Perry não apoia e não está afiliada aos Proud Boys – disse a companhia, no dia 25 de setembro, no Twitter, três dias antes do debate.
Os Proud Boys, que se envolveram em confrontos durante as manifestações contra o racismo e a violência policial em Oregon, Washington e Nova York, apoiam propostas como fechar fronteiras, dar armas a todos, acabar com as políticas de bem-estar social e defender papeis tradicionais de gênero – como "venerar a dona de casa" - com alguma variação, políticas defendidas por Trump.
O FBI (polícia federal americana) os classifica como "grupo extremista com vínculos como o nacionalismo branco". O Southern Poverty Law Center, referência em estudo de extremismo, inclui a organização nos grupos de ódio do país. Logo, pedir para que os Garotos Orgulhosos recuem, é muito pouco para um presidente dos EUA e candidato à reeleição.