O governo da primeira-ministra Theresa May pode ser criticado pela maneira titubeante com que tem lidado com o Brexit, a saída britânica da União Europeia. Mas, no aspecto de proteção de dados e responsabilização das empresas de redes sociais, está anos-luz à frente do Brasil e até de seus pares europeus.
Em uma ação inédita até agora, o Reino Unido pretende responsabilizar individualmente executivos de empresas como o Facebook por conteúdos perigosos, como incitação à violência ou ao suicídio e a disseminação de informações falsas. O governo inclusive ameaça fechar as plataformas infratoras.
O conjunto de medidas está sendo chamado de Livro Branco. Elas foram desenvolvida depois de consultas a magnatas das mídias sociais, como o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, e enfrentaram pouca resistência de outras plataformas que também foram acusadas de permitir a propagação de mensagens de ódio e assédio. O plano inclui a criação de um órgão regulador independente.
– O que estamos propondo é que as empresas que publicam conteúdo gerado por usuários assumam maior responsabilidade para garantir a segurança de seus usuários", disse à rede BBC o ministro de Cultura e Meios de Comunicação, Jeremy Wright.
São propostas pioneiras no mundo. O Livro Branco já vinha sendo discutido desde a empresa de Zuckerberg foi acusada de ter cedido dados pessoas de usuários a outras gigantes da tecnologia como Microsoft, Amazon e Netflix.
May alertou as empresas de tecnologia que "elas não fizeram o suficiente" para proteger os usuários e que o governo estava disposto a agir.
– É hora de fazer as coisas de maneira diferente, as empresas devem começar a assumir as responsabilidades de suas plataformas e ajudar a restaurar a confiança do público nessa tecnologia – disse May.
Apesar dos reiterados pedidos de desculpas feitos por Zuckerberg e as promessas de implantação de controles, ficou explícita a incapacidade da companhia, por exemplo, em impedir a transmissão ao vivo pela pela plataforma do ataque realizado em 15 de março por um supremacista branco em duas mesquitas da Nova Zelândia, que deixou 50 mortos.