Números grandiosos: 300 mil militares em campo, 36 mil veículos, mil aviões e 80 navios. Como uma orquestra bélica, todos se movendo por terra, água e ar. Assim a Rússia deu início nesta terça-feira às maiores manobras militares desde a Guerra Fria.
Ao colocar em marcha a máquina de guerra, com exibição de mísseis Iskander, capazes de transportar ogivas nucleares, a operação Vostok-2018 é a coroação da era Vladimir Putin no poder. Exibe toda renascença russa como potência militar, depois do caos político que se seguiu ao esfacelamento soviético, nos anos 1990, a recuperação econômica e, de certa forma, da autoestima como nação.
O primeiro dia: deslocamento de tropas. O segundo: exercícios de batalhas antiaéreas. O terceiro, na quinta-feira, o ápice da manobra, ainda é um mistério não revelado pelo Kremlin.
Todo aparato bélico está em ação: em terra, tanques T-80 e T-90, no ar, os caças Sukhoi-34 e Sukhoi-35 e, no mar, submarinos nucleares e fragatas equipadas com mísseis Kalibr.
Desde 2014, com o início da degradação das relações entre Rússia e Ocidente, o Kremlin tem aumentado seus exercícios militares, da separatista região do Cáucaso ao Mar Báltico, chegando ao Ártico. Ao mesmo tempo, tem denuncia a expansão em sua área de influência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Esse movimento da aliança atlântica é visto como ameaça fundamental à segurança do Estado russo, de acordo com a nova doutrina militar adotada no ano passado.
São várias as áreas de interesse, que Putin pretende, esta semana, deixar evidente ao mundo: a hegemonia no Báltico cria uma colcha de proteção marítima contra a Otan; o Ártico é a região do planeta mais importante do ponto de vista geopolítico para o futuro, com o degelo polar; internamente, os exercícios são demonstração de força a separatistas chechenos e grupos terroristas.
As manobras foram precedidas de exercícios no Mar Mediterrâneo, de 1º a 8 de setembro, das quais participaram mais de 25 navios e 30 aviões, em um contexto de fortalecimento da presença russa na Síria.
A Otan, que denunciou o exercício atual como ensaio para "um conflito em grande escala", tem motivos para se preocupar. A mobilização militar, que os russos comparam à Zapad-81, ocorrida há quase 40 anos, com soldados do Pacto de Varsóvia, ocorre em um momento em que a tensão geopolítica transborda em várias regiões: na Ucrânia, onde os russos anexaram a Crimeia, em 2014; na Síria, onde Putin é o grande fiador do ditador Bashar al-Assad; e em meio às suspeitas de interferência na eleição de Donald Trump, em 2016.
Para tirar o sono dos estrategistas da Otan, a manobra ainda coloca lado a lado as duas únicas potências capazes de colocar o Ocidente em alerta: Rússia e China.