Tudo e, ao mesmo tempo, nada. E esta não é uma resposta retórica. Tudo porque, diante de um olhar otimista, o melhor cenário seria uma declaração final da Guerra da Coreia, entre 1950 e 1953, cujo armistício cessou as hostilidades, mas não pôs fim oficial ao conflito. Ou seja, tecnicamente, Coreia do Sul e Coreia do Norte seguem em guerra.
O desejo máximo de Trump é que a Coreia do Norte elimine suas armas nucleares de forma imediata, completa e verificável. Provar que pode obter o que seus antecessores não conseguiram é seu sonho maior. Ao ir a Singapura neste 12 de junho histórico e apertar a mão de Kim, o americano está dando a cartada mais alta de sua política externa — iniciativa que pode ser comparada à viagem de Richard Nixon à China de Mao Tsé-Tung, em 1971.
O fato fora da curva, aquilo que nenhum outro presidente havia feito. O evento à época era tão inesperado que cunhou uma expressão que entraria para o léxico da política americana: "Nixon goes to China". Pode-se dizer que neste 2018, Trump goes to Korea (com o perdão do trocadilho e do verdadeiro local da cúpula). O fato de 1971 não deu a Nixon o Nobel da Paz — ganhou o seu chefe da diplomacia Henry Kissinger, em 1973 — e todos sabemos como seu governo acabou. Mas aquele fato inédito foi fundamental para uma sensível aproximação no auge da Guerra Fria.
Para Kim, a vitória máxima neste encontro de daqui a pouco seria o fim das sanções econômicas e uma desnuclearização gradual, ou seja, o processo em etapas com concessões mútuas, e que abranja toda a península. Uma união das duas Coreias seria impensável a curto prazo. Mas o reconhecimento de seu regime é quase uma garantia de que ele não acabará como Khadafi, Mubarak, Ben Ali e até Assad.
O nada ao qual me refiro seria um encontro com muita forma e pouco conteúdo. Apenas para as câmeras de TV.
Mesmo assim, por si só, EUA, Coreia do Norte e o mundo sairão melhores do que o cenário que tínhamos no ano passado, com troca de farpas, testes nucleares, o possível lançamento de uma bomba de hidrogênio (nunca confirmada), mísseis balísticos, pelo lado comunista. E, por parte de Trump, tivemos arroubos pelo Twitter, a famosa frase “pequeno homem foguete”, como ele se referia a Kim e o deslocamento de uma frota naval americana para a Península Coreana. Em dezembro, estávamos diante de um cenário que quase levou os dois a uma guerra. Diálogo, as cenas para as câmeras, se houver só isso, já iremos dormir, aqui no Brasil, com um mundo um pouco melhor do que aquele que havia ontem.