Tensa troca de telefonemas, caminhadas apressadas nos acarpetados corredores de Bruxelas e reuniões a portas fechadas da diplomacia em Paris, Londres e Berlim. Foi dia de bombeiros europeus entrarem em campo para tentar evitar que se espalhasse o incêndio provocado por Donald Trump no tabuleiro internacional após sua decisão de rasgar o acordo nuclear com o Irã.
As 24 horas seguintes aos petardos de Trump contra a ordem global foram fundamentais para se entender que nem tudo está perdido. Poderia-se esperar radicalismo da ditadura dos aiatolás, mas o Irã respondeu com ponderação. O presidente Hassan Rohani teria dito ao francês Emmanuel Macron que fará tudo para permanecer no acordo, porém pediu que os europeus deem garantias rápidas de que suas empresas vão continuar a trabalhar com o país. Em conversa de uma hora por telefone, os dois presidentes concordaram em implantar sem demora grupos de trabalho entre Europa e Irã sobre os meios de apresentar, nas próximas semanas, primeiras garantias que o governo iraniano poderia expor a sua população para convencê-la a permanecer no acordo.
Os Estados Unidos não são donos do tratado nuclear. Antes de fechar a negociação, que levou 12 meses para ser alinhavada, o ex-presidente Barack Obama chamou líderes de União Europeia (UE), Rússia e China para o escrever o documento do acordo que, sim, tem falhas, mas é o melhor texto que já se fez na história da tensa relação entre os aiatolás e o Ocidente.
A saída americana é traumática, mas não é o fim do mundo. A questão será levada a uma cúpula europeia na semana que vem em Sófia, na Bulgária. Um diplomata matou a charada:
– Temos de falar em incentivos para que o Irã se mantenha no acordo. Isso significa que precisamos encontrar meios de absorver o impacto econômico da reimposição das sanções pelos EUA.
Londres, Berlim e Paris mantêm em segredo os detalhes da estratégia, mas um relatório de especialistas do International Crisis Group (ICG) esboçou medidas que poderiam tranquilizar as empresas que trabalham com o Irã, muitas delas alemãs, e ajudar os responsáveis iranianos moderados a persuadir os partidários de uma linha-dura em continuar no acordo. Os países da UE poderiam recorrer a suas agências públicas de investimento para cobrir os riscos que as companhias poderiam enfrentar por fazerem comércio com o Irã, sugere o ICG. Ao mesmo tempo, Reino Unido, Alemanha e França poderiam apoiar conjuntamente projetos de infraestruturas no país por meio de suas agências de desenvolvimento.
Outra opção na mesa, segundo europeus, seria converter o Irã em um país elegível para receber empréstimos do Banco Europeu de Investimentos (BEI), dando a Teerã acesso ao financiamento internacional em euros para driblar as sanções americanas às transações em dólares. Um constrangimento: todas as ações, embora diplomatas neguem, passariam por uma tentativa de isolamento dos EUA na questão iraniana.