O fechamento da Estátua da Liberdade afetou, no fim de semana, diretamente os turistas – muitos brasileiros – que estavam em Nova York. Sem dúvida, foi o aspecto mais visível e curioso do chamado shutdown que tirou o sono do presidente Donald Trump por três noites. Mas a paralisação do governo, que levou ao cancelamento dos barcos entre Manhattan e Liberty Island, vai muito além da frustração de quem estava por lá. O fato revela a falta de tato da atual administração no Congresso e precipita o início da batalha eleitoral de meio de mandato, em novembro.
Nenhum governo se deixa paralisar por simples inaptidão, obviamente. Hábeis articuladores, Bill Clinton e Barack Obama passaram pelo mesmo problema em seus mandatos. Mas, a despeito das habituais puxadas de tapete entre republicanos e democratas, Trump enfrenta fissuras dentro do próprio partido. Boa parte da base não o apoia desde a campanha.
No plenário, o impasse se dava por conta do tema imigração. Os democratas são minoria no Senado e na Câmara, mas eram indispensáveis para aprovar o orçamento federal, mesmo que temporário, como acabou ocorrendo nesta segunda-feira. A oposição queria compromissos sobre o destino de 700 mil imigrantes ilegais que chegaram quando crianças ao país, os chamados “dreamers”. Herança do governo Obama, o Daca (Deferred Action for Childhood Arrivals) os protege de deportação.
Diante da falta de acordo, Trump mencionou no domingo em um tuíte a possibilidade de mudar as regras de votação no Senado. A hipótese é conhecida em Washington como “opção nuclear”, já que marcaria uma ruptura radical no funcionamento da instituição.
Não foi preciso. Senadores democratas recuaram, e ambos os lados aprovaram autorização provisória de gastos até 8 de fevereiro. Nesse período, tentarão definir um projeto de lei que prorrogue o Daca. Ou seja, há chances de tudo voltar a fechar daqui a duas semanas.
Em tempo: a Estátua da Liberdade voltou a abrir nesta segunda-feira porque o Estado de Nova York pagou de seu bolso os funcionários federais necessários para o funcionamento do monumento. Foi um tapa de luvas do governador democrata Andrew Cuomo, que alegou que, como símbolo de abertura aos imigrantes, o monumento “nunca foi tão importante”.