O ataque contra tropas da Organização das Nações Unidas (ONU), ocorrido na quinta-feira à tarde e que ganhou repercussão internacional só nesta sexta-feira, é o mais mortífero contra os capacetes azuis, como são chamados os soldados de paz da entidade, desde a trapalhada operação na Somália, em 1993. Quatorze militares morreram e outros 53 ficaram feridos. Todos pertencem a um contingente da Tanzânia. Além dos capacetes azuis, morreram cinco soldados congoleses que tentaram repelir a ação rebelde do grupo Forças Aliadas Democráticas.
Até agora, a ação mais grave contra forças de paz da ONU havia sido em Mogadíscio, quando morreram 23 militares, episódio que foi eternizado pela série de reportagens Black Hawk Down, do jornalista do Philadelphia Inquirer Mark Bowden. As reportagens viraram livro e, depois, filme que, no Brasil, levou o nome de Falcão Negro em Perigo.
Tropas de paz normalmente são bem vistas pelas populações locais — como era o caso do Brasil no Haiti. Mas confrontos não são incomuns. Na missão dos capacetes azuis brasileiros no Caribe, que terminou este ano, uma das batalhas mais difíceis foi pela tomada de Cité Soleil, considerada até 2008 pelas Nações Unidas a maior e mais violenta favela de Porto Príncipe.
A ofensiva no Congo ocorreu em Kivu do Norte, no Noroeste. A Monusco (nome oficial da Missão de Estabilização das Nações Unidas na República Democrática do Congo) foi alvo da ação de rebeldes contra uma de suas bases de uma brigada de intervenção na estrada entre Mbau e Kamango, no território de Beni. Foram quatro horas de confronto.
Atual secretário nacional de Segurança nacional, o general gaúcho Carlos Alberto dos Santos Cruz, veterano do Haiti, comandou a missão no Congo até 2015, à frente de 23,7 mil militares de 20 países.
A região é palco há anos de uma guerra civil entre grupos rebeldes, com massacres frequentes apesar da presença do exército congolês e das forças da ONU, a mais numerosa e cara em termos de perdas militares entre todas as operações de paz em vigor. Criada em 2010, já perdeu 93 militares e civis.
A violência no país coloca o Congo em níveis semelhantes ao Iraque, à Síria e ao Iêmen. Além do componente guerra civil, há epidemia de cólera sem precedentes e cerca de 4 milhões de pessoas estão deslocadas.