Por mais que os Estados Unidos tenham evoluído em termos de segurança desde os atentados de 11 de setembro de 2001, nada ou muito pouco foi feito para evitar ação de lobos solitários, como parece ser o caso de Stephen Paddock, 64 anos, que abriu fogo contra centenas de jovens em Las Vegas. Ainda que tenha passado por cima de direitos civis, adotado medidas xenófobas que marcaram imigrantes, em especial de origem árabe na paleta com a suspeita de extremismo, o governo americano, em nível estadual ou federal, tem se mostrado omisso ou pouco eficiente ao confrontar chacinas como essas, que se repetem de tempos em tempos, em shows, casas noturnas, escolas e universidades.
Para desespero do discurso de Donald Trump contra o extremismo islâmico, o atirador de Las Vegas não vinha do Oriente Médio, era um residente de Mesquite, Nevada, que disparou do alto do 32º andar de um cassino, aparentemente sem qualquer ligação com o Estado Islâmico ou outros inimigos declarados americanos.
Esse tipo de inimigo está dentro de casa, não é flagrado pela tecnologia de aeroportos ou pelo sobrenome no passaporte ou identidade.
Há dois tipos de lobos solitários: os que embora não sejam filiados a nenhum grupo extremista, possam ter alguma identificação ideológica com organizações violentas (como alguns dos atropeladores de pedestres na Europa); e aqueles que agem como terroristas apenas com o intuito individual (como parece ser o caso de Stephen).
No ano passado, a Europol lançou um documento no qual afirma que os ataques terroristas de “lobos solitários” são a maior ameaça à Europa no século 21 justamente porque são muito “difíceis de detectar e de impedir”. Os Estados Unidos no século 20 viram dezenas de casos de lobos solitários, alguns deles célebres como o Unambomber, que aterrorizou o país entre os anos 1970 e 1990. Ou seja, não é de hoje que malucos abrem fogo contra pessoas, muitos deles jovens como massacres na Virginia Tech e Columbine High School. Mas a internet e as redes sociais facilitaram o acesso de indivíduos a ideologias e comunidades radicais a partir de qualquer garagem ou sala de estar. O segundo ponto: há uma descentralização no modus operandi de grandes organizações terroristas para formas mais individualizadas. É muito mais fácil um homem atuar sozinho e matar centenas do que um ataque como o 11 de setembro de 2001, caro e complexo na orquestração. No caso americano, o acesso a armas de fogo em qualquer loja ou supermercado em alguns Estados é outro fator. Segundo a lei americana, qualquer pessoa tem o direito de comprar uma arma, desde que não tenha sido condenado juridicamente.