Ainda que tardia e com efeitos práticos pouco efetivos, é louvável a iniciativa do Mercosul de elevar a pressão sobre o governo de Nicolás Maduro. A ideia do bloco, que se reuniu ontem em Mendoza pela primeira vez desde a crise deflagrada pela convocação de assembleia constituinte na Venezuela, é atacar em duas frentes: a comercial, que com o afastamento do país desde dezembro de sua posição de membro pleno; e, agora, política, pressionando para que suspenda a votação, prevista para o próximo domingo e que pode dar mais poder a Maduro.
O governo Michel Temer, que em parte por seus próprios escândalos tem se mantido afastado de uma mediação da crise venezuelana, está sendo convocado, agora, a um protagonismo ao assumir a presidência rotativa do Mercosul na 50ª reunião do Conselho do Mercado Comum e Cúpula do Mercosul e Estados Associados.
O isolamento da Venezuela é favorecido pela conjuntura política atual latino-americana. Foram-se os governos ditos progressistas da primeira década do século 21, com Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, que, em maior ou menor graus, protegiam o regime chavista-madurista.
Sua resistência restringe-se no continente ao afilhado político do altiplano boliviano, Evo Morales, e ao novo presidente Lenin Moreno, herdeiro de Rafael Correa no Equador, mais preocupado em assumir as rédeas do próprio governo internamente do que com a política externa. Diante da pressão dos vizinhos em Mendoza, o governo venezuelano reagiu seguindo a cartilha populista conhecida de eleger o inimigo externo: acusou o Mercosul de “assediar o povo da Venezuela” e considerou o encontro ilegal, o que é uma falácia.
A nova configuração conservadora dos governos sul-americanos, além de Temer, Mauricio Macri, na Argentina, e Horacio Cartez, no Paraguai (Tabaré Vázquez, no Uruguai, é historicamente ligado à esquerda, mas está alinhado aos parceiros de bloco), quer apressar o acordo comercial com a União Europeia antes que novos tornados mais desestabilizadores no continente atrasem a já tardia negociação.