Em qual região do planeta poderia começar a III Guerra Mundial? Na Coreia do Norte dos arroubos nucleares de Kim Jong-un? Na Cachemira, disputada por Paquistão e Índia, países pobres munidos de armas atômicas provavelmente mal guardadas? Em alguma ex-república soviética eventualmente invadida pela Rússia?
Nenhuma das alternativas acima. Se observarmos interesses políticos conflitantes, posições geográficas e econômicas estratégicas e ânimos exaltados, o barril de pólvora mundial é o Oriente Médio. Junte o atual interesse russo na Síria, o Irã atômico, cujo acordo costurado por Barack Obama tem potencial para degringolar na era Donald Trump, e as rivalidades ancestrais entre israelenses e palestinos e teremos os elementos de uma tempestade perfeita.
O conflito na Síria, que já dura quatro anos, chamou a atenção do Ocidente pelo horror do regime de Bashar al-Assad, pelas ruínas de Aleppo e pela massa de refugiados na Europa, mas não foi capaz de sensibilizar os Estados Unidos, que tiraram o pé da guerra, não se envolveram – em parte, por causa do trauma do Iraque –, abrindo o flanco para a Rússia. No caso de acirramento do conflito entre Israel e palestinos, os EUA não se absteriam, como aliados incondicionais dos israelenses. A Rússia, apoiador palestino, colocaria a mão. A Arábia Saudita agiria. O Iraque ficaria pró-americanos. O Irã, pró-russos. De que lado ficaria a Turquia, filiada à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), mas cada vez mais pendendo para o lado russo?
Dada a capacidade explosiva do Oriente Médio, a conferência que ocorreu em Paris no fim de semana deveria ter sido levada mais a sério. Embora 75 países estivessem presentes, os principais envolvidos, Israel e Palestina, esvaziaram a iniciativa. O encontro foi encerrado com uma mensagem clara para que os lados se comprometam com a solução de dois Estados e sobre a necessidade de negociações diretas entre os envolvidos.
Não há dúvidas de que muitos dos conflitos atuais terminariam a partir da coexistência pacífica entre israelenses e palestinos. Mas todos estão cansados de anúncios e promessas vazias. Não existe possibilidade de os dois lados conversarem sem mediação. A questão é: de quem?
Trump pretende transferir a embaixada americana de Tel-Aviv para Jerusalém. O deslocamento implicaria, nas entrelinhas, reconhecer Jerusalém como capital de Israel, algo que os palestinos também reivindicam. Isso praticamente retiraria os EUA do papel de mediadores.Obama não mexeu no vespeiro, e Trump não terá a delicadeza que o assunto exige. Caminho aberto para Putin, "interlocutor da paz" na Síria e sua diplomacia do canhão. Não será nos próximos quatro anos que veremos a paz no Oriente Médio. Já a guerra...