Ao término de uma hora e meia do primeiro debate entre os candidatos à presidência dos EUA, pode-se dizer que Hillary Clinton conseguiu demonstrar maior domínio da política e da diplomacia americana. Foi cerebral, preparou-se melhor para o duelo. A senadora se manteve calma, mesmo quando o adversário Donald Trump tentou interrompê-la (os microfones ficavam abertos), especialmente na primeira parte do confronto, quando o tema principal foi economia e geração de emprego. Trump foi mais midiático, muitas vezes tentou ganhar a platéia com frases de efeito. O mediador, âncora da NBC Lester Holt, não interrompeu o republicano em alguns momentos, o que passou a ideia de que Trump ganhava no grito.
Apesar da falsa impressão de dominar o debate, Trump não soube aproveitar o terreno no qual normalmente é melhor: a segurança e o terrorismo internacional. Evitou atacar Hillary em seu ponto frágil na política externa: a tragédia no consulado de Benghazi e a morte do embaixador americano na Líbia, enquanto ela era secretária de Estado de Barack Obama.
Trump não foi tão verborrágico como se esperava, deixou as bravatas para quando discursa para seu público, sua torcida. Apesar de mais comedido, foi agressivo. Hillary aproveitou o final do confronto para atacá-lo, principalmente no que diz respeito a suas frases polêmicas, que denotam machismo.
Em outro momento, a democrata acusou o adversário de ter apoiado a Guerra do Iraque. Trump negou. Na verdade, ele apoiou, sim, a invasão e só mudou de ideia algum tempo depois.
Trump errou o alvo quando disse que Hillary lutou “toda a sua vida” contra o Estado Islâmico. Impossível, Hillary tem mais de 30 anos de carreira política, e o EI só foi fundado há 12 anos.
No debate americano, é necessário equilíbrio entre forma e conteúdo. Trump foi mais agressivo, enérgico, pode ter conquistado o eleitor que deseja um líder mais forte, aquele que se conecta com ideias mais simples. Hillary, sempre mais calma, sorrindo de forma irônica, acertou ao apostar no conteúdo.