Crônica publicada em 25/03/2013
Olhei atentamente para a foto do encontro entre os dois papas, o reinante, Francisco, e o emérito, Bento XVI.
Estamos diante de um fato insólito e ecoante: um papa aposentou- se e foi descansar em seu tugúrio.
Rigorosamente, foi uma aposentadoria, Bento XVI cansou- se de exercitar a função de papa e foi repousar com proventos existenciais.
Então fiquei cogitando lunaticamente de que o papa aposentado, que era tido como o representante de Deus na Terra, pudesse ter imitado o próprio Deus, que na minha hipótese excêntrica também teria se aposentado depois de criar o mundo em seis dias.
Cogito, diante dos terremotos, das inundações, dos homens se metendo em guerras e atentados nas cidades, enfim, do mal espalhado e reinante aqui na Terra, que Deus tenha realmente se aposentado.
Bento XVI teria somente imitado Deus.
Essa teoria minha não é tão absurda, ela se casa exatamente numa das teses predominantes em teologia, a de que Deus concedeu ao homem o livre arbítrio, isto é, em suma, Deus criou o mundo, mas não se mete nos fatos acontecidos nele, por isso ocorrem as catástrofes e todos os males terríveis que encerram as relações humanas.
Tendo Deus se aposentado e tendo Bento XVI cedido lugar a um substituto, quem então teria substituído Deus após sua aposentadoria? Aí é que está a chave da minha tese: quem substituiu Deus foi o livre arbítrio dos homens, a consciência de cada um de nós é que passou a presidir os acontecimentos e os destinos.
A consciência humana é, pois, a substituta de Deus.
Por isso é que se criou entre os homens uma expressão muito conhecida:" É preciso estar em paz com a minha consciência", em outras palavras, estar em paz com Deus.
Em ainda outras palavras: temos o dever de olharmos para dentro de nós, bem fundo, e dirigirmos nossas condutas iluminados pela luz dessa introspecção.
Ninguém pode fugir de sua consciência, isto quer dizer que ninguém pode ignorar Deus.
Só despreza Deus quem despreza a sua própria consciência e sai por aí a praticar o mal.
É muito claro pela teoria do livre arbítrio que o homem é que escolhe o seu caminho, Deus deu- lhe liberdade para trilhar o bem ou mal, a seu talante.
E o livre arbítrio é uma das principais diferenças entre os homens e os animais.
Os animais não têm consciência para discernir entre o bem e o mal.
Não sei por que vaidosamente me assalta a impressão de que acabei de escrever uma das melhores colunas minhas de todos os tempos.
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