Crônica publicada em 07/12/2007
Confesso uma intimidade minha: sou bipolar.
E acrescento: desconfiem de todos os unipolares. Eles são pessoas de uma ideia só, de um sentimento só, de uma mulher só, de um emprego só, de uma fonte de renda só e de uma solidão de dar dó.
O bipolar como eu, ensinaram-me os psiquiatras, quando não está depressivo, está eufórico.
Ambos os extremos são anormais, fogem ao padrão de felicidade pessoal.
Feliz é quem consegue equilibrar o humor entre a depressão e a euforia.
A euforia é um estado de êxtase, a pessoa se torna loquaz, eloquente, criativa, brilhante.
Mas a euforia traz consigo uma desvantagem terrível: tomada por ela, a pessoa se mune de um tal grau de irritabilidade que se torna inconveniente, agressiva, a ponto de brigar no trânsito, brigar no serviço, brigar com a mulher, com os filhos, nos casos extremos é capaz de matar.
A depressão é um estado de prostração. A vida perde o sentido para o depressivo. Ele quer se fechar no quarto e não permite que ali entre sequer a arrumadeira e a mulher. Elas entram, mas contra a vontade dele.
O depressivo não cria nada, pelo contrário, só destrói: a si próprio. O depressivo não tem inspiração.
Aliás, noto brilhantemente só agora que depressão é exatamente o contrário de inspiração.
O ideal é o meio-termo, isto é, quando a pessoa está apta tanto à tristeza quanto à alegria, nem depressivo nem eufórico.
O limite ideal da mente está entre a tristeza e a alegria, se baixar da tristeza, entra no terreno da depressão. Se exceder na alegria, ingressa na euforia.
As minhas melhores colunas, as que levam as pessoas a recortá-las e colá-las nas paredes de suas cozinhas, são aquelas que escrevi quando estava eufórico.
Mas paralelamente a elas, na vida particular, no trabalho, no meio familiar e no trânsito, quando eufórico, ficava também perigosamente litigante. E não raro explodia em ira contra pessoas das minhas relações.
E, finalmente, quando me apanho depressivo sou um deserto árido de imaginação, foge-me o poder da criação e fujo de todo e qualquer relacionamento, desde com o garçom até com as pessoas mais caras ao meu coração.
A depressão é uma estrada íngreme e sombria que parece nos levar à morte. É o mais escuro dos túneis da mente humana.
A depressão nos aparta do mundo e nos faz maldizer o nosso nascimento.
E, quando estou depressivo, levo oito horas para escrever uma coluna medíocre, ao contrário de quando estou eufórico: escrevo então uma coluna em 40 minutos e me comparo, em qualidade de texto mesclada com emoção, a um Antônio Maria.
Tais são, sem complicados silogismos, as danças macabras ou inebriantes da bipolaridade no palco da alma humana.
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