Vão me desculpar, não quero soar repetitivo, mas, por favor, não caiam nessa de que privatizar a Carris vá adiantar grande coisa.
Não que eu seja contra: podem vender ou fechar a empresa se constatarem, de fato, que essa é a melhor solução para ela. A questão é que, definitivamente, não é isso o que deveríamos estar discutindo. A Carris virou o bode na sala: existem problemas muito, mas muito maiores no sistema de transporte coletivo, só que o governo municipal, por algum motivo, se recusa a discuti-los.
Na manhã desta segunda-feira (23), o prefeito Sebastião Melo publicou no Twitter – e repetiu na Rádio Gaúcha – que existem duas razões para a passagem de ônibus em Porto Alegre ser uma das mais caras do Brasil: a grande quantidade de isenções e o alto custo da Carris. Prefeito, por favor, o senhor sabe que não é verdade.
Cortar as isenções é importante, sem dúvida, mas, assim como vender ou fechar a Carris, trata-se de uma medida mitigatória, complementar, que não ataca o âmago do problema. Qual é o âmago do problema? Ora, veja o caso de São Paulo, por exemplo: por que a passagem lá é mais barata do que aqui? Não é porque lá não tem Carris – é porque lá a prefeitura injeta R$ 3 bilhões por ano no sistema.
Ou seja: o sistema, ao contar com esse dinheiro extra, não depende exclusivamente de pessoas pagando a passagem para ser sustentado. Ele tem um subsídio. E, com esse subsídio, fica possível baixar o valor da tarifa.
Porto Alegre, como se sabe, não tem condições financeiras de botar esse dinheiro extra, então precisa encontrar outra maneira de financiar o sistema de transporte coletivo. Como? Não quer taxar os aplicativos? Tudo bem, respeito a posição do prefeito. Não quer a sugestão da EPTC de tributar todas as empresas da cidade? Tudo bem também. Mas alguma coisa precisa ser proposta – e esse é o debate urgente a ser feito.
Ficar nessa ladainha, como se privatizar a Carris fosse uma tábua de salvação, é iludir a população e fugir do que interessa. Já disse, perdão se me repito: até podem se livrar da estatal, mas não é isso o que vai resolver o escangalhado sistema de transporte coletivo da Capital.