Mas para que tanta boneca, dona Julieta? Ela baixa os olhos e lembra de como era triste, quando criança, não ter dinheiro para comprar nenhuma: via amiguinhas com bebês de porcelana no colo, desejava em silêncio os brinquedos da vitrine, mas nunca ganhava nada.
– Depois que casei, a situação melhorou. Decidi comprar tudo o que eu queria! – conta Julieta Padilha, 88 anos, calculando seis décadas de coleção.
Sua casa de três andares virou atração na Rua São Mateus, no bairro Bom Jesus, zona leste de Porto Alegre. A fachada e o jardim estão tomados de bonecas de todo tipo, além de bichinhos, gnomos, chaveiros, móbiles, santos, estátuas e o que mais possa adornar o lado de fora da residência.
Nem ela sabe quantos enfeites se apinham ali – se considerarmos só as bonecas, conforme uma contagem informal que a coluna fez, são pelo menos 200. E faz apenas um ano que dona Julieta resolveu expor suas relíquias: antes, ficava tudo fechado em uma sala, dentro de casa. É que as duas cadelas da família descobriram o esconderijo e promoveram uma chacina – vários brinquedos acabaram esquartejados.
– Eu disse para a minha filha: "Por que não botar tudo lá fora?". Demoramos tanto tempo para comprar e, agora, vamos deixar tudo enfurnado? As pessoas precisam ver – sorri Julieta.
Só que a decisão deu trabalho – e ainda dá. Quando chove, todas as bonecas são levadas para dentro, que é para as roupinhas não estragarem. Afinal, foi a própria aposentada quem costurou uma por uma:
– Eu me divirto fazendo as roupas. Além do mais, como não tenho mais filhos pequenos, elas são minhas crianças.
Falando em crianças, dona Julieta faz um apelo: pede à coluna que divulgue seu celular, para o caso de alguém ter notícias das duas cadelinhas que, em junho, fugiram por um buraco no portão e, até agora, não voltaram. É (51) 99595-0807.
Uma cadela tem cor de caramelo e, a outra, é pretinha com caramelo. Se você enxergá-las por aí, saiba que as duas atendem pelo mesmo nome: Bonequinha.
Colaborou Rossana Ruschel