Dono do Beverly Hills, bar que há 38 anos ocupa uma esquina na Fernando Machado com a Bento Martins, no Centro Histórico, Aristeu Dall Soler conta que os clientes ainda almoçavam quando três homens entraram para derrubar seu telhado. À base de marretadas, botaram abaixo também os pilares de tijolos que sustentavam a cobertura.
– Foi horrível, a minha filha chorou um monte – relembra Aristeu, 59 anos.
Quem contratou os pedreiros foi o próprio condomínio onde o Beverly Hills está instalado. Fazia nove anos que os moradores do prédio – o bar fica no térreo – exigiam que a área externa do boteco fosse devolvida ao edifício. Ou seja: embora o bar também tenha um ambiente fechado, interno, cercado por paredes, aquele espaço coberto pelo telhado, com 10 mesas para a clientela, originalmente era pátio do condomínio.
Na quinta-feira passada, um oficial de Justiça foi ao local cumprir a liminar do juiz Alexandre Schwartz Manica, da 10ª Vara Cível de Porto Alegre – em maio, Manica havia determinado a reintegração de posse. Por isso, assim que o oficial notificou Aristeu, a administração do edifício agilizou a derrubada da estrutura.
– Os moradores ficaram com pena, mas, durante todos esses anos, o bar não regularizou a situação, então não havia alternativa – diz a síndica do prédio, Mariana Cruz.
Segundo ela, os condôminos reclamavam do barulho, do cheiro de gordura e do impacto visual que o Beverly Hills provocava na fachada. Embora Aristeu garanta ter sempre cumprido as regras – com o estabelecimento fechando às 22h –, a Justiça já deu razão para o condomínio em duas instâncias.
Na decisão mais recente, de 2014, os três desembargadores da 19ª Câmara Cível do TJ foram unânimes: "Mesmo que os demandados estivessem cumprindo as exigências (...), tem o condomínio o direito de reivindicar a área por ser de uso comum do edifício". Vale lembrar que, no ano 2000, quando começou a usar aquele espaço, Aristeu tinha a autorização do prédio.
– Sei que agora havia uma liminar para cumprir, mas, depois de tanto tempo, acho que eu merecia mais respeito – acredita ele.
Colaborou Rossana Ruschel