De pé desde as seis da manhã em um fila que se espichava por dois quarteirões no centro de Porto Alegre, Marcelo Alexandre Lemos Guimarães, 39 anos, desmaiou. Bateu com a cabeça no meio-fio, abriu a testa e o supercílio, foi socorrido por duas agentes de trânsito da EPTC, mas relutou em ir para o Pronto-Socorro – não queria perder a chance de entregar seu currículo na agência do Sine, onde duas centenas de desempregados aguardavam atendimento na quarta-feira passada (7).
– Estou dormindo mal, comendo pouco. Tenho uma filha de 11 anos que mora no Interior e preciso mandar dinheiro para ela. É uma carga emocional muito grande. Simplesmente apaguei – disse ele à coluna.
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Desempregado há cinco anos, Marcelo é de Santana do Livramento e está em Porto Alegre desde fevereiro em busca de trabalho. Mora de favor na casa de um conhecido. O post de Fernanda Aguiar Ribeiro – uma das agentes que o socorreu no piso frio da José Montaury – relatando o episódio tinha mais de 12 mil compartilhamentos no Facebook até ontem.
– Ele não queria desperdiçar o dinheiro que tinha gasto na passagem – contou Fernanda sobre a resistência de Marcelo em ir para o HPS. – Ficou se culpando porque não sabia quando teria dinheiro para pegar ônibus. Ficou se culpando porque o corpo não aguentou.
Técnico em informática, com sete cursos de capacitação no currículo, Marcelo nem havia jantado na noite anterior. Levou oito pontos e, agora, com um largo curativo na testa, continuará enfrentando as longas filas do Sine:
– Já me chamaram de vagabundo por não ter um emprego. Estou fazendo tudo o que posso.