Na primeira tarrafeada, a rede já volta com duas tilápias – cada uma do tamanho de um cachorro pequeno.
– Aqui a pescaria rende, só dá peixe com mais de um quilo – sorri Luis Carlos Alves, 54 anos, um motorista desempregado que pesca toda semana no Arroio Dilúvio.
Diz ele que nem na praia foi tão fácil pescar. Sem dinheiro para comprar carne, Luis Carlos descobriu no Dilúvio a própria sobrevivência: depois de oito ou 10 tilápias capturadas, ele e a mulher têm comida para sete dias. A pescaria leva duas horas – só termina porque a mochila onde leva os peixes começa a pesar muito.
– Tem que limpar bem, só isso. Bota um salzinho e pimenta, depois frita e fica uma delícia – garante Luis Carlos.
Durante anos, nos tempos em que dirigia táxi, ele e a mulher – tão tímida que preferiu nem se identificar – moravam em uma casinha modesta no Lami, no extremo sul de Porto Alegre. Mas a coisa apertou, a água foi cortada e o casal decidiu se mudar para baixo de uma ponte no próprio Arroio Dilúvio.
– Não dá para fazer nada sem água. Pelo menos aqui tem uma mangueirinha do Dmae.
Quando voltaram para buscar mais roupas no Lami, viram que a casa fora roubada: levaram cobertor, panelas, móveis, tudo. O que conseguiram comprar de novo deve-se à minguada renda da mulher, aposentada pelo INSS. Nada que garanta a comida do dia.
– O que nos dá de comer é o Arroio Dilúvio – conclui Luis Carlos.