Desde que um motorista bêbado invadiu a ciclovia da Avenida Icaraí e matou um skatista, no mês passado, tenho me feito diariamente a seguinte pergunta: por que tanta gente fica chocada com tragédias assim?
É uma contradição. Se a sociedade inventa mecanismos para driblar a lei e para facilitar a combinação entre direção e álcool, então a própria sociedade deveria saber que, de vez em quando, alguém vai morrer.
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Não há nada mais incongruente do que uma pessoa lamentar a morte de Carlos Henrique Muller Rocha, atropelado pelas costas aos 25 anos, enquanto segue no Twitter a conta do RadarBlitzPOA. Você deve conhecer o RadarBlitzPOA: é um página colaborativa dedicada a alertar motoristas sobre a localização das blitze da EPTC. Todo mundo se ajuda, um bêbado avisando o outro. É a solidariedade do mal.
São 287 mil seguidores – e outros tantos que, embora não sigam a página, consultam o RadarBlizPOA todo fim de semana. Posso ver na minha frente, enquanto escrevo, o motorista Jander Milton do Nascimento Torres, embriagado naquela noite, espiando o Twitter antes de matar Carlos Henrique na ciclovia da Icaraí. Se não espiou, foi burro: certamente uma boa alma teria lhe mostrado o melhor caminho para despistar a polícia.
Por isso, sigo com esta dúvida: por que as pessoas ficam tão chocadas quando um bêbado mata? Todos contribuem para isso.