O antigo conflito entre gerações envolvia inúmeros aspectos da vida, especialmente costumes e valores. Esse drama que se iniciava na adolescência cessou, sobram apenas, e às vezes, litígios menores, mais para demarcar uma diferença geracional do que por desacordos reais. Desapareceu o abismo de concepções de mundo. Porém uma queixa segue recorrente entre os que conseguem dar um espaço particular ao filho: a bagunça do quarto do adolescente.
A comparação menos ofensiva é de que seria como um ninho de ratos. Afinal, não há distinção muito clara entre o que seria roupa suja, suada, das não usadas. Estão todas emboladas e em qualquer lugar, inclusive no armário. Encontramos gerações de restos de comida entremeadas de material escolar e lixo. A cama é um lugar curinga que serve para todas as atividades. O piso é como uma estante extra, está preenchido de objetos. Só o usuário sabe como mover-se dentro desse espaço sem vazios.
Primeiro havia o altar do computador, uma pequena clareira resguardava seu uso. Agora, salvo o adolescente seja muito aficionado a games, com um celular ou tablet ele faz tudo o que antes pedia uma máquina potente. Portanto, nem isso demarca o centro do quarto – tudo é uma massa indiferenciada de objetos sortidos sobrepostos.
Não poderia ser diferente: o quarto é o único local onde o adolescente põe suas regras, a bolha onde está só e a salvo. Evidentemente, é o avesso da casa ordenada e limpa. É a mesma lógica do Carnaval: cria-se um mundo de ponta-cabeça, um tempo e espaço de exceção, em que as demandas externas não chegam ou não têm permissão para incomodar. Seu quarto é o atual ferrolho de sua vida.
Os pais incomodam-se por intuir que essa bagunça reflete a organização da cabeça do filho. Como que projetasse na peça o caos que tem dentro de si. Nem sempre, mas muitas vezes é mesmo. Adolescência não é um período fácil. Aceitem que eles precisam de um casulo para amadurecer. Aceitem que precisam negar temporariamente o que vem de vocês. Entendam, a bagunça é também um espantalho para seus adultos.
Além disso, dormem demais, mas esse sono é tanto biologicamente necessário quanto uma posição de recusa a produzir. Sua preguiça é uma contestação ao estabelecido, pois todas as demandas lhe parecem demasiadas e insensatas. Eles estão na toca, digerindo a novidade de seus corpos e de uma sexualidade que chegou sem manual. Estão tentando saber o que querem da vida e decifrar o que o mundo quer deles.
Que fazer? Esperar que passe e estar ao lado quando precisam. Fique calmo e firme no seu posto de adulto, eles precisam muito disso. Mas, se você quer pelo menos uma vingancinha por aguentar essa esbórnia, vai uma sugestão: que tal fotografar o quarto, para daqui uns anos mostrar aos netos? Pense nisso!