As eleições equatorianas terão bom espaço na edição deste fim de semana em Zero Hora (na página 24 da edição impressa). Mas há um aspecto especialíssimo e pontual a ser abordado. O resultado deste domingo pode ser decisivo para o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, a quem o Equador mantém asilado na sua embaixada em Londres desde 2012 para evitar a extradição à Suécia por supostos crimes sexuais, que ele nega. O candidato governista, Lenín Moreno, é partidário de manter seu asilo, mas os demais já dizem que vão retirá-lo.
Assange, que em novembro foi interrogado pela Justiça, teme ser entregue aos Estados Unidos para ser julgado pela publicação de centenas de milhares de documentos secretos sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão, assim como de 250 mil cabos da diplomacia americana.
As eleições no Equador, nas quais mais de 12,8 milhões de eleitores devem escolher o sucessor de Rafael Correa, chegam em uma complicada situação econômica e implicam um desafio para a desacreditada esquerda latino-americana. Para começar, os equatorianos avaliam a saída de Correa após 10 anos de governo socialista com sua chamada "revolução cidadã".
Personalista e confrontador, carismático e polêmico, esse economista de 53 anos formado nos EUA e na Europa liderou o período mais estável da história recente do país, em parte graças à bonança petroleira com a qual modernizou o país e elevou seus índices de desenvolvimento. Sua saída, em meio a delicada situação econômica, deixa o governo desgastado e a oposição sem o grande inimigo.
- A ausência de Correa, a fraqueza do candidato correísta e a divisão entre os candidatos anti-correístas borraram a campanha - disse para a agência de notícias AFP o cientista político Simón Pachano.
As eleições, nas quais serão escolhidos presidente, vice-presidente, 137 deputados e cinco representantes no Parlamento Andino para 2017-2021, prometem ser disputadas. Nenhum candidato está certo de que vencerá o primeiro, para o que são necessários 40% dos votos e 10 pontos de vantagem à frente do segundo mais votado. Pela primeira vez desde 2006, é muito provável haver um segundo turno, que seria em 2 de abril.
O ex-vice-presidente Lenín Moreno, adepto do correísmo, lidera a disputa (32%), seguido por dois conservadores: o ex-banqueiro Guillermo Lasso (21,5%) e a ex-deputada Cynthia Viteri (14%). Mais distante, aparece o ex-prefeito esquerdista de Quito Paco Moncayo (7,7%).
Sem dúvida, os votos dos indecisos, que rondam em 33%, serão fundamentais.
As urnas vão abrir às 7h locais (9h de Brasília) e fechar às 17h (19h de Brasília) de domingo, e os resultados são esperados às 20h (22h de Brasília).
A disputa eleitoral esteve dominada por situações que sacodem a economia do Equador: catástrofe petroleira, desvalorização das moedas vizinhas, fortalecimento do dólar e altíssimos custos pelo terremoto de abril de 2016. Essa "tempestade perfeita", segundo o governo, é para a oposição uma possibilidade de atiçar o descontentamento das classes médias e baixas, que falam de esbanjamento e má gestão. Mas, sobretudo, coloca em jogo os modelos opostos. Por um lado, a continuação de Moreno, com um sistema que combina um grande gasto social com altos impostos e elevado endividamento. Por outro, a mudança de Lasso e Viteri, que procuram fomentar o investimento estrangeiro e a diminuição dos impostos para estimular o consumo e a produção nacional.
Um convidado inesperado também apareceu: a corrupção, com casos como o da petroleira estatal Petroecuador, que envolveu um ex-ministro de Correa, e os dos supostos subornos da empreiteira Odebrecht a funcionários equatorianos, contabilizados em US$ 33,5 milhões. Os eleitores dirão se são "distorções" da campanha, como afirma Correa.
Essa eleição também supõe um novo teste para a esquerda da América Latina, após a guinada da direita no Brasil, na Argentina e no Peru em 2016.
Os equatorianos poderão frear o que Correa define como a "restauração conservadora" na região. Mas, se não o fizerem, o Equador deixará sozinha a Venezuela de Nicolás Maduro e a Bolívia de Evo Morales.
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Como seu próprio prenome indica, Lenín Moreno, 63 anos, candidato governista, vem de uma família de esquerda. Seu pai, um professor de escola pública do interior da região amazônica, era um fã do líder revolucionário soviético. O próprio Moreno se define como "ainda mais à esquerda" que seu padrinho político, o atual presidente do país, Rafael Correa, que deixa nas mãos dele, seu vice entre 2007 e 2013, o compromisso de continuar com a "Revolução Cidadã", a versão equatoriana do "socialismo do século 21" venezuelano.
Cadeirante em razão de um tiro que levou ao reagir a assalto em 1998, tornou-se autor de livros, conferencista e ativista dos direitos de deficientes.
O favoritismo é todo seu, mas o segundo turno se avizinha.