Pegou mal, e a Venezuela acaba corroendo os últimos resquícios de algum possível aliado no âmbito do Mercosul, o Uruguai de Tabaré Vázquez. A tentativa da chanceler venezuelana Delcy Rodríguez de entrar à força na chancelaria argentina para um encontro do bloco, ao qual Caracas não foi convocada, é um ato grave, opinou o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa.
- Entrar à força na chancelaria argentina me parece que é um ato grave do ponto de vista diplomático bilateral - estimou o ministro uruguaio, um dia após Rodríguez afirmar que entraria "pela janela" no encontro de chanceleres dos sócios fundadores do bloco que ocorreu em Buenos Aires.
Para Nin Novoa, cujo país apoiou a permanência da Venezuela no Mercosul (só que sem direito a voto), contrariando as opiniões de Brasil, Argentina e Paraguai, a situação do país caribenho no bloco é complexa. O chanceler afirmou que a Venezuela teve quatro anos para incorporar 1.159 normas do Mercosul a sua legislação e em agosto faltavam 200, "uma delas fundamental, que implica a criação da zona de livre comércio entre os Estados partes". Esse texto não está incorporado e "dificulta enormemente o desenvolvimento econômico do Mercosul", disse Nin Novoa, cujo país foi o único que apoiou Caracas para que assumisse a presidência pro tempore do bloco em meados do ano, quando os outros sócios rejeitavam esta ação devido à situação política na Venezuela.
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O ministro uruguaio lembrou que a Venezuela teve um prazo adicional até dezembro para acrescentar estas normas.
- Em dezembro, constatamos que não havia nenhuma norma nova incorporada, e no direito dos tratados se estabelece com clareza que podem ocorrer suspensões (por algo assim) - diz o chanceler uruguaio.
Em um confuso episódio na quarta-feira, a chanceler do governo de Nicolás Maduro viajou a Buenos Aires para tentar formar parte do encontro de chanceleres convocado pelos sócios fundadores após a suspensão da Venezuela do bloco. Caracas não havia sido convidada, e Delcy não foi recebida.
O ministro brasileiro, José Serra, publicou em sua conta no Twitter uma foto mostrando que a reunião era realizada apenas com a presença de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, que fundaram o Mercosul em 1991. A imagem ilustrou a separação da Venezuela do grupo depois de ter tido seus direitos no bloco suspensos no dia 1º de dezembro, após seis meses de um governo colegiado do Mercosul que ignorou as exigências venezuelanas de que exercia a presidência rotativa do bloco. Além disso, na quarta-feira a Argentina assumiu a presidência rotativa do Mercosul, apesar das críticas de Caracas.