Um freio na esperança de pacificação dos colombianos: os representantes da oposição na Colômbia ao acordo de paz com as Farc rejeitaram o novo pacto alcançado com a guerrilha, com a qual solicitaram uma reunião, após encontro de mais de seis horas com os representantes do governo.
Governo e Farc querem referendo parlamentar para o pacto.
Há temores do governo de que a ausência de uma urgência seja prejudicial.
Da parte dos analistas, também há temor de que o processo se torne precário.
- Insistimos esta noite em um acordo nacional para introduzir algumas modificações ao acordo ajustado entre o governo e as Farc. O governo negou, esta noite, a possibilidade deste acordo nacional sobre temas substanciais - disse o ex-presidente Álvaro Uribe, ferrenho opositor das negociações.
O ex-presidente e atual senador se reuniu, ao lado de outros líderes da campanha do "não" ao primeiro acordo alcançado com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), rejeitado em 2 de outubro em um plebiscito (que teve presença de apenas um terço do eleitorado em votação facultativa e grande mobilização oposicionista), com uma delegação do governo do presidente Juan Manuel Santos, que apresentou o novo pacto alcançado com os insurgentes em 12 de novembro. Os opositores afirmaram que se alguns de seus pedidos não forem incluídos no acordo, que o governo e as Farc chamaram de definitivo e imodificável, o pacto "é apenas um retoque do acordo rejeitado pelos cidadãos". Entre os pedidos apresentados na segunda-feira ao novo acordo está o de não permitir a elegibilidade política de autores de crimes graves enquanto cumprem suas penas, eliminar o narcotráfico como conexo ao delito político e que o acordo não entre na Constituição, entre outras solicitações.
- O governo nos disse que estes temas não podem ser revisados - disse Uribe, que considera "fundamental" a referendo da população ao acordo ou sobre "os pontos citados de divergência". Tanto o governo como a guerrilha são favoráveis à implementação do acordo por meio do Congresso, que tem maioria governista.
- Temos toda a disposição de dialogar com o governo e as Farc sobre as modificações nos temas citados. Para esse diálogo propomos aproveitar a presença em Bogotá dos líderes das Farc - afirmou o ex-presidente.
Os dirigentes da guerrilha chegaram à Colômbia, procedentes de Cuba, sede das negociações desde 2012, para preparar a cerimônia de assinatura da paz, que ainda não tem data definida. O coordenador da equipe de negociação do governo, Humberto de la Calle, que participou na reunião, fez um apelo de urgência para implementar o novo acordo pela "fragilidade" do cessar-fogo bilateral vigente desde agosto. Propôs um rascunho de acordo nacional para a implementação do que foi acordado com o grupo insurgente, o principal e mais antigo do país, para superar um conflito armado de meio século.
De la Calle destacou que o novo acordo foi resultado de dias inteiros de renegociação com a guerrilha, após a derrota no plebiscito.
- O resultado foi um novo acordo com mudanças, ajustes e precisões em praticamente todos os temas - afirmou De la Calle.
Segundo o governo, o pacto inclui alterações em 56 dos 57 pontos questionados pela oposição. Seriam algo como 80% das ponderações.
...
Líderes da guerrilha das Farc chegaram na noite de segunda-feira a Bogotá e várias localidades da Colômbia para participar de reuniões sobre a implementação do novo acordo de paz assinado com o governo para encerrar um conflito de mais de meio século, informou o grupo rebelde. "Secretariado Nacional das @FARC–EPueblo na cidade de Bogotá para reuniões sobre a #ImplementaciónYA do #AcuerdoDefinitivo", reportou a agência Nueva Colombia Noticias, que divulga informações sobre os insurgentes, em mensagem em sua conta no Twitter, acompanhada de três fotos em que aparecem os comandantes guerrilheiros. Nas imagens aparecem cinco dos nove integrantes do Secretariado das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxistas), o órgão permanente de direção da principal e mais antiga guerrilha do país. Entre eles estão Joaquín Gómez, Bertulfo Álvarez, Mauricio Jaramillo, Carlos Antonio Lozada e Pastor Alape. Os dois últimos estão na capital colombiana desde a semana passada, quando se reuniram com membros da ONU e do governo para examinar um incidente - no âmbito do cessar-fogo vigente desde agosto - no sul de Bolívar (norte), no qual morreram dois guerrilheiros. O mesmo órgão de comunicação das Farc publicou mais cedo uma foto em que o líder máximo dos insurgentes, Rodrigo Londoño ("Timochenko"), e o chefe de negociações da guerrilha, Iván Márquez, se preparavam para viajar de Havana, sede dos diálogos de paz, para a capital colombiana.