Mexeram nos calos mais sensíveis do presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Um júri americano considerou, na sexta-feira (18), dois sobrinhos da primeira-dama da Venezuela, Cilia Flores, culpados de planejar o envio de 800 quilos de cocaína para os Estados Unidos. Primeiro uma ressalva: Maduro não vê com muita nitidez a diferença entre os poderes, em especial entre o Executivo e o Judiciário - logo, dirá que essa é uma trama urdida pelo colega Barack Obama. Outra ressalva: a advogada e ex-procuradora Cilia é muito mais que a primeira-dama. Há rumores, inclusive de que, ao tentar postergar o referendo revogatório de 2016 para 2017 (e assim fazer com que o "presidente-tampão" seja o vice, indicado pelo presidente a qualquer momento), a ideia do consórcio presidencial era a de por a própria como governante do país.
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Depois de oito dias de julgamento e de seis horas e meia de deliberações, em um tribunal federal do sul de Manhattan, o júri declarou Efraín Campo Flores, de 30 anos, e seu primo Franqui Francisco Flores de Freitas, 31, culpados de conspiração para importar cocaína para os EUA e para manufaturar e distribuir a droga para o país. O juiz Paul Crotty estabeleceu 7 de março como a audiência para anunciar a sentença. A pena vai de 10 anos de prisão até prisão perpétua.
Os dois primos viajaram em novembro de 2015 ao Haiti, em um jato particular, onde receberiam US$ 11 milhões por organizar o envio de um primeiro carregamento de droga. Nesse mesmo mês, acabaram detidos por agentes da DEA (a Agência Antidrogas americana) no país centro-americano e foram levados para Nova York. Estão presos há um ano.
Gravações de vídeo, fotos e transcrições de conversas telefônicas exibidas ao júri durante o processo mostram a dupla negociando o envio de 800 quilos de cocaína da Venezuela para Honduras em troca de US$ 20 milhões. Eles também aparecem declarando que o destino final da carga seria os EUA.
Só estou esperando os discursos contra o "malvado e cruel imperialismo" que persegue gente inocente só por ser chavista e bolivariana e enfrentá-lo.
Coleta de assinaturas para antecipar eleições
Na política interna da Venezuela, o partido Primeiro Justiça, do ex-candidato presidencial Henrique Capriles, anunciou que vai coletar assinaturas pela antecipação das eleições presidenciais, antes da terceira rodada de diálogo com o governo. Conforme o partido, a ação pretende pressionar e demonstrar que a ampla maioria dos venezuelanos apoia uma saída eleitoral para tirar o país da crise política e econômica. "Vamos ver se, com os mediadores aqui, este governo surdo vai trair sua promessa fundacional" de respeitar a vontade popular, declarou o delegado da coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) nas negociações de diálogo, Carlos Ocariz.
Vaticano e a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) acompanham o processo como mediadores.
Ocariz destacou que a coleta de assinaturas será realizada entre 30 de novembro e 4 de dezembro e garantiu que o governo permite as eleições apenas quando é maioria, travando-as quando não é.
A terceira rodada de negociações está prevista para 6 de dezembro.
- Vamos demonstrar que a Venezuela quer votar. A maioria pôs suas esperanças no referendo revogatório. Queremos votar para que nunca mais tenhamos de viver da caridade dos países que querem nos mandar remédios e alimentos - acrescentou (ontem, houve protestos contra a escassez de medicamentos).
Já o partido Vontade Popular, liderado pelo preso político Leopoldo López, não aceitou sentar na mesa de diálogo com o governo de Nicolás Maduro.
Claro, as negociações são lastreadas em três exigências básicas: 1) deixar que ocorra em 2016 o referendo revogatório, que é um sistema de recall legítimo, constitucional e democrático; 2) caso não haja o referendo, permitir que a eleição presidencial seja então antecipada; 3) a libertação dos presos políticos.
O governo de Maduro não só rejeita veementemente todas essas três premissas. Também diz que não aceita negociar mediante "imposições".