As Malvinas são um dos temas mais recorrentes entre os argentinos. É um drama que provoca convergências, divergências e muito bate-boca. E, neste exato instante, volta com força. Provoca um debate acalorado, no qual uma atitude do presidente Mauricio Macri, dizem alguns, seria oportunista.
Uma entrevista de Macri repercutiu mal e alimentou críticas severas. Os jornais locais relatam que, depois de discursar na Assembleia Geral da ONU, Macri disse que a premier britânica, Theresa May aceitara discutir a soberania das Malvinas. Pouco antes, em seu discurso, Macri reiterara que se dispunha a dialogar com o Reino Unido, que administra o território no Oceano Atlântico - em relação ao qual os dois países se enfrentaram belicamente 34 anos atrás.
Macri contou que, durante o almoço, cumprimentou May e lhe disse estar pronto para um diálogo inclusive a questão da soberania - e que a premier britânica, surpreendentemente, teria aquiescido sobre as conversas, a respeito das quais a estimativa é de que duraria anos.
Só que... a ministra do Exterior argentina, Susana Malcorra, interveio divulgando nota na qual amenizava o tom da declaração ao dizer que houve a conversa, mas que se referia a diversos temas, podendo incluir as Malvinas - e os diplomatas britânicos confirmaram essa versão menos enfática. Macri, porém, em seguida, insistiu que o tema da soberania foi mencionado.
Qual a crítica feita a essa pequena confusão em tema tão grandioso? O ex-ministro Daniel Filmus, que foi secretário de assuntos relacionados às Malvinas entre 2014 e 2015, atacou o presidente, acusando-o de mostrar "uma enorme ignorância sobre a diplomacia internacional e, principalmente a questão das Malvinas" E não foi voz isolada. Andrés Cisneros, vice-chanceler da Argentina entre 1996 e 1999, disse que é "óbvio" que May não trataria de uma questão como a soberania em uma conversa de corredor. Mais: definindo a declaração de Macri como "lamentável", o alfinetou dizendo que "auem acompanha o assunto sabe que o Reino Unido não tem intenção de debater as Malvinas."
Pois é. O tema Malvinas anda na crista da onda argentina. Na semana passada, os governos dos dois países publicaram, conjuntamente, um comunicado em que anunciam a cooperação para "remover todos os obstáculos que limitam o crescimento econômico das Malvinas, incluindo comércio, pesca, navegação e hidrocarbonetos" (leia aqui). A oposição não gostou do conteúdo da nota e chamou Malcorra para se explicar no Congresso. O Senado aprovou declaração de que "a legítima e imprescindível soberania sobre as Ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul e os espaços marítimos correspondentes são parte do território nacional" (frase que consta na Constituição argentina de 1994).