Quatorze ex-presos políticos chilenos anunciam a liberação dos arquivos com testemunhos e com provas sobre as torturas sofridas durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Esses arquivos estavam protegidos por 50 anos a partir de 2003. Organizações sociais e de ex-presos políticos apresentaram vários recursos judiciais para abolir o sigilo envolvendo os arquivos da chamada "Comissão Valech", a qual coletou, em 2003, os testemunhos de milhares de torturados por agentes do regime Pinochet. A liberação, que inclui apenas arquivos desses 14 ex-presos, "é um grande passo, porque por 50 anos nos impuseram uma lei maldita", proibindo sua publicação, disse o presidente da Associação de Ex-presos Políticos, David Quintana.
- Essa lei não permitia que se soubesse os nomes dos nossos violadores, assassinos que fizeram nossos companheiras desaparecerem - acrescentou.
Os depoimentos coletados pela Comissão liderada pelo bispo católico Sergio Valech não constavam no informe da "Comissão de Verdade e Reconciliação". No início da década de 1990, a Comissão compilou os casos de mortos e desaparecidos durante a ditadura. Recentemente, o Congresso chileno votou para manter os 50 anos de proteção dos arquivos da Comissão Valech. Em paralelo, porém, a Justiça ordenou a entrega dos informes individuais às vítimas que reivindicaram esse material. Isso foi possível, porque o texto da legislação deixa a porta aberta para a liberação da informação por meio de um recurso judicial apresentado individualmente pelos ex-presos, ou por seus familiares diretos - em caso de falecimento da vítima. O conteúdo dos arquivos varia segundo seus protagonistas, incluindo diferentes fichas, transcrições de entrevistas, recortes de diários e certificados de diferentes fases do processo de detenção. Além dos mais de 30 mil casos de torturas documentados pela Comissão Valech, a cruel ditadura de Pinochet deixou cerca de 3.200 mortos ou desaparecidos, conforme a Comissão da Verdade e da Reconciliação.