A Venezuela, dizendo-se país detentora da presidência pro tempore (semestral) do Mercosul, convocou reunião de coordenadores do bloco em Montevidéu para esta quarta-feira, segundo comunicado de sua embaixada em Montevidéu.
A surpreendente convocatória ocorre um dia após a reunião em Montevidéu em que compareceram Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, sem a Venezuela.
O evento, ao qual o Uruguai participará e que não se sabe se contará com a presença de Brasil, Argentina e Paraguai, estava marcado para começar por volta do meio-dia na sede do bloco.
O Mercosul atravessa sua pior crise em anos diante da negativa de Brasil, Paraguai e Argentina em admitir a presidência temporária da Venezuela, devido à crise política que abala o país caribenho.
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O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, celebrou na terça-feira à noite o que qualificou de "fracasso" de Brasil, Argentina e Paraguai em bloquear o acesso da Venezuela à presidência do Mercosul."
- A presidência temporária do Mercosul estamos exercendo, além das manobras rasteiras, miseráveis e ruins da "tríplice aliança", liderada pelo governo "stronista" do Paraguai - disse Maduro em seu programa semanal de TV.
A coisa só piora. Maduro não conseguirá qualquer diálogo ao fazer paralelos com a "tríplice aliança" (formada por Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai, na guerra que leva o nome do país guarani, em que foi destroçado).
Pior: Maduro vincula assim o governo do presidente paraguaio, Horacio Cartes, à ditadura militar de Alfredo Stroessner ocorrida entre 1954 e 1989.
- A Venezuela tem a razão legal, tem a razão moral, e seguirá exercendo a presidência do Mercosul de maneira digna, equilibrada e justa - disse o presidente venezuelano. Ele falou "equilíbrio"? Falou "justo"?!!!
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Coordenadores do Mercosul se reuniram na terça-feira em Montevidéu, em busca de fórmulas para destravar a crise que atinge o bloco. O encontro. no entanto, terminou sem anúncios oficiais.
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O principal motivo alegado pelos três membros para não aceitarem que a Venezuela assuma a presidência é que o país não é uma democracia plena e que desrespeita direitos humanos, inclusive com presos políticos.
O Uruguai insiste que Caracas tem o direito de exercer a presidência temporária do Mercosul. Por isso, pediu mais tempo para fazer consultas internas antes de decidir sobre a proposta de presidência colegiada.
Como as decisões do bloco têm de ser tomadas em consenso, a aceitação uruguaia é indispensável. Pelas normas do grupo regional, a presidência deve ser repassada semestralmente por ordem alfabética. Logo, depois do Uruguai, seria a vez da Venezuela. A proposta de Brasil, Argentina e Paraguai, no entanto, é que o Mercosul tenha uma presidência colegiada até o início de 2017, quando seria a vez de Buenos Aires reassumir a chefia do bloco.
Indígenas se voltam contra Maduro em longa caminhada
Em meio a um caos institucional e principalmente socioeconômico, Maduro enfrenta também problemas internos, o que o enfraquece externamente.
Hoje, centenas de indígenas venezuelanos iniciaram marcha de 700 quilômetros rumo a Caracas, onde a oposição fará passeata em 1º de setembro para exigir do poder eleitoral que acelere o referendo revogatório contra o presidente. Mil e quinhentas pessoas partiram de Puerto Ayacucho, no Estado do Amazonas (sul), disse em entrevista por rádio Liborio Guarulla, o governador opositor da região, majoritariamente de selva e lar de 20 etnias autóctones.
- A "Tomada de Caracas" começa no Amazonas - afirmou Guarulla, dizendo que os manifestantes esperam chegar à capital na quarta-feira da próxima semana, um dia antes da mobilização convocada pela coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD), promotora da consulta popular contra Maduro.
Os indígenas, segundo Guarulla, apoiam o pedido feito ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado pela MUD de servir ao governo, de fixar uma data para coletar os 4 milhões de assinaturas - 20% do colégio eleitoral - necessárias para convocar o revogatório. Da mesma forma, de acordo com o dirigente da oposição, pedem que sejam reconhecidos os deputados indígenas do Amazonas Julio Ygarza, Nirma Guarulla e Romel Guzamana, cuja eleição foi suspensa de forma cautelar pelo Tribunal Supremo de Justicia (TSJ), após os recursos apresentados pelo governo alegando fraude.
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A maioria opositora do parlamento foi declarada em desacato pelo TSJ, depois que sua junta diretiva empossou em 28 de julho os parlamentares da MUD.
O dirigente opositor Henrique Capriles, ex-candidato presidencial, aplaudiu a iniciativa das comunidades amazônicas em vídeo difundido pelo Periscope.