No fim de semana, este colunista explicou, em Zero Hora, o dilema por que passa a Grã-Bretanha. E uma constatação ficou evidente: o "Brexit", a possível saída britânica da União Europeia (UE), é um tema mundial
Afeta o mundo e, evidentemente, a América Latina, que, ora, faz parte do mundo e a ele jamais não pode ficar indiferente.
Leia reportagem deste colunista sobre o Brexit no fim de semana. Aqui temos todo o processo explicado em detalhes, com prós, contras e detalhamentos
Mas há algo ainda mais universal naquela questão britânica: a presença de neonazistas perfilados entre os que defendem a saúda da UE. Trata-se, desafortunadamente, de um assunto que nos toca a todos.
Pois bem, ao mesmo tempo em que 10 vencedores do Nobel de Economia desaconselhavam nesta segunda-feira a saída britânica da UE e que os mercados antecipavam a vitória da permanência, os dias finais da campanha eram dominados pela recordação da deputada assassinada Jo Cox.
Jo Cox, enfim, torna-se uma mártir.
Este colunista está convencido de que a tendência é a de a Grã-Bretânia permanecer na UE. E acha que isso se deve em muito ao assassinato da parlamentar trabalhista e à autoria de um neonazista - como neto de sobreviventes do Holocausto, sinto-me à vontade para dizer que é um monstro, que promoveu uma ação monstruosa contra uma política de visão humanista.
Os principais nomes dos dois lados devem comparecer nesta segunda-feira à sessão extraordinária do parlamento em homenagem à deputada pró-UE, organizada dois dias antes do que seria o aniversário de 42 anos da deputada.
O assassinato foi cometido por um simpatizante neonazista, favorável a um país branco e sem judeus, que gritou "Morte aos traidores, liberdade para a Grã-Bretanha" na primeira audiência com um juiz. Sua atitude asquerosa, porém, tende a desfavorecê-lo. Parece ter marcado um ponto de inflexão na campanha, provocando mudança no tom beligerante.
Nesta mesma segunda-feira, o líder do partido antieuropeu Ukip, Nigel Farage, denunciou que os partidários da UE estão tentando vincular a morte de Cox à campanha. Hmmm. Sentiu o golpe. O Ukip é de extrema direita...
Sayeeda Warsi, que foi presidente do Partido Conservador, anunciou, também nesta segunda-feira, que mudou de opinião e votará a favor da permanência na UE, cansada do que chamou de "mentiras e xenofobia" da campanha Brexit. Sayeeda afirmou que o que provocou sua decisão foi o cartaz de Farage que apresenta uma caravana de refugiados como uma ameaça para a Grã-Bretanha.
A primeira pesquisa divulgada depois da brutal morte da deputada trabalhista e pró-UE, defensora dos refugiados e dos imigrantes, mostra a opção favorável à permanência com 45% das intenções de voto, contra 42% para os defensores da saída. A pesquisa do instituto Survation foi realizada na sexta-feira e no sábado. O assassinato de Cox ocorreu na quinta-feira.
A média das últimas seis pesquisas elaborada pelo instituto de opinião What UK Thinks mostra um empate, com 50% para os dois lados, sem levar em consideração os indecisos. Novas pesquisas devem ser divulgadas nas próximas horas, para confirmar ou desmentir a mudança de tendência.
Os mercados, no entanto, já antecipam a vitória da permanência desde sexta-feira. As Bolsas europeias operavam em alta, e a libra também registrava uma valorização. Dez vencedores do prêmio Nobel de Economia advertiram sobre as consequências negativas e duradouras que a Brexit provocaria.
"Acreditamos que o Reino Unido está economicamente melhor dentro da UE", afirma o texto publicado no jornal britânico The Guardian pelos vencedores do Nobel entre o início dos anos 1970 e 2015. "As empresas e os trabalhadores britânicos precisam de pleno acesso ao mercado único. Além disso, a saída criaria grande incerteza ao redor dos futuros acordos comerciais alternativos da Grã-Bretanha, tanto com o restante da Europa como com mercados importantes como os dos Estados Unidos, Canadá e China".
"E esses efeitos perdurariam por muitos anos", completa o texto.
"Em consequência, o debate econômico se inclina claramente a favor de seguir na UE", concluem os especialistas.
O ministro das Finanças da Grã-Bretanha, George Osborne, elogiou a carta.
"Sem precedentes, 10 economistas prêmios Nobel avisam sobre os danos a longo prazo da saída da UE. É hora de ouvir os especialistas", escreveu no Twitter.
Mas os líderes do Brexit voltaram a apelar para uma oportunidade única de romper com as regras de Bruxelas.
"É hora de acreditar em nós mesmos, no quea Grã-Bretanha pode fazer, e recordar que sempre somos os melhores quando acreditamos em nós mesmos", escreveu o ex-prefeito de Londres Boris Johnson no jornal Daily Telegraph.
"Não voltaremos a ter uma oportunidade assim em nossas vidas", completou.
Só que, com todo esse discurso nacionalista, os apoiadores ocasionais perceberam que está ao seu lado. O pior tipo de nacionalista que pode existir.