A cultura do estupro, infelizmente, não é um mal reservado ao Brasil. Uma pesquisa de opinião divulgada neste ano na França pela associação Memória Traumática e Vitimologia – criada em 2009 para a formação, informação e pesquisa sobre as consequências psicotraumáticas de violências em geral –, feita pelo instituto Ipsos, revelou que perduram os mitos e clichês sobre o estupro no país de Simone de Beauvoir (filósofa autora de O Segundo Sexo).
Na França, uma denúncia por estupro é registrada a cada 40 minutos, mas estima-se que apenas 10% do total de vítimas apresenta queixa oficialmente. Entre 2010 e 2014, as denúncias no país aumentaram 18%, de 10.762 para 12.768 (600 estupros declarados em Paris em 2014). Para 40% dos entrevistados na sondagem, a responsabilidade do estuprador é atenuada se a vítima teve uma atitude provocante em público; 38% consideram o mesmo se ela flertou com o agressor, e 27% se ela vestia "roupas sexy". Outros 17% opinaram que forçar sua própria mulher a ter uma relação sexual não se trata de estupro. Para 19% das pessoas interrogadas, muitas mulheres que dizem "não" a uma proposta de relação sexual na verdade querem dizer "sim". E 21% acreditam que uma mulher pode ter prazer em uma relação sexual forçada – índice de 30,7% entre os jovens de 18 a 24 anos.
Na pesquisa, 32% dos entrevistados disseram que as vítimas acusam injustamente o agressor por "vingança", e outros 23%, que é para "atrair a atenção". Para a grande maioria, 76%, as mulheres "têm uma maior tendência a considerar como violentos acontecimentos que os homens não percebem como tais"; e 61% afirmaram que o homem tem maior dificuldade em "controlar seu desejo sexual".
Em 2012, foi lançado o manifesto das 313 violadas, iniciativa da feminista Clémentine Autain (ela mesma estuprada aos 22 anos) como um "ato político" para "liberar a palavra" das vítimas e provocar a opinião pública. O texto, intitulado Eu Declaro Ter Sido Violada, foi assinado por 313 vítimas de estupro, uma alusão ao manifesto de 1971 Eu já Abortei, assinado por 343 mulheres, entre elas Catherine Deneuve, Jeanne Moreau, Marguerite Duras e a própria Simone de Beauvoir (o aborto seria legalizado na França quatro anos depois, um projeto da então ministra da Saúde, Simone Veil).
Na França contra o estupro, constantemente são lembradas as criminosas palavras do ex-deputado espanhol José Manuel Castelao Bragaña, obrigado a se demitir do Conselho Nacional da Cidadania Espanhola no Exterior, em 2012, após ter declarado que "as leis são como as mulheres, existem para serem violadas".
Balão noturno
Desde o mês passado, é possível subir no balão Generali, estacionado no parque André-Citröen, na parte sudoeste de Paris, também à noite.
A notável vista da capital francesa, a 150 metros de altura, antes só podia ser admirada durante o dia. Mas agora, e até o dia 3 de setembro, a experiência pode ser igualmente noturna, às sextas e sábados, das 21h às 23h (12 euros para adultos e seis euros para crianças), com direito a toda a iluminação da Cidade Luz.
O balão, além de atração turística, serve também para medir a qualidade do ar de Paris, num convênio com a associação Airparif e o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS).