Quem caminhar neste ano pelas alamedas do célebre Grand Slam francês de tênis, acomodado em 8,5 hectares no Bois de Boulogne, em Paris, já poderá notar as primeiras mudanças promovidas como parte do ambicioso projeto de modernização do complexo de Roland Garros. As obras, num custo total estimado de 350 milhões de euros, deverão se prolongar até 2020, data prevista de inauguração da principal transformação de Roland Garros: a nova quadra central Philippe Chatrier, que será acrescida de um teto retrátil. A cobertura, operacional em 15 minutos uma vez acionada, permitirá a realização de jogos em tempo de chuva, como foi o caso dos dois primeiros dias do torneio neste ano, que atrasaram o programa. Também será instalado um novo sistema de iluminação, possibilitando partidas noturnas.
A maior preocupação da Federação Francesa de Tênis, e também do público, é evitar que, com sua nova cara, Roland Garros perca seu aclamado "glamour". Certa vez, conversando aqui com o tricampeão em Paris Gustavo Kuerten, ele disse que o Grand Slam francês possui um "charme embutido". O catarinense e ex-tenista nº 1 do mundo definiu o britânico e aristocrático torneio de Wimbledon como o "classicismo"; o Aberto dos EUA como o “calor e a efervescência de Nova York”; e apontou o Grand Slam de Melbourne, na Austrália, como um torneio ainda em "amadurecimento", em busca de sua identidade.
– Wimbledon pode, de uma certa forma, se assemelhar, mas lá eles são mais reservados. O torneio americano é mais mundial, algo mais aberto. Em Paris, há certamente uma grande diferença: aqui eles realmente se apropriam mais do torneio. Os franceses sabem muito bem cultivar o glamour aqui. Eles são loucos, desesperados por este torneio. Para o brasileiro entender o sentido real de Roland Garros, só vindo aqui – resumiu Guga.
Além da especificidade de ser o único Grand Slam disputado no perímetro da cidade, o torneio francês, segundo Guga, também se destaca por um aspecto pictórico:
– O tenista termina todo sujo, mas mantém ao final o charme da elegância do saibro. E tem todas as cores, aquela terra por trás, o cara deslizando naqueles movimentos, em tudo isso está incorporado este relacionamento que existe, a devoção do francês por Roland Garros.
Uma outra alteração, esta não arquitetônica, pode ser percebida na edição deste ano. Diante do elevado nível de ameaça terrorista na França, a segurança foi reforçada ao extremo. Para adentrar no complexo, o torcedor é obrigado a enfrentar longas filas e passar por várias revistas e controles, o que não ocorria em outros anos.
MERGULHO NO RIO SENA
Em 1988, Jacques Chirac, então prefeito da capital francesa, prometeu que tornaria as águas do Rio Sena aptas para parisienses e turistas se banharem em período estival.
Hoje, quase 30 anos depois, o rio permanece interditado para banhos no perímetro urbano, e quem se arriscar a desafiar a lei de 1923 poderá levar uma multa de cerca de 15 euros. No verão, os parisienses podem aproveitar a Paris Plage, a praia artificial, mas sem tocar na água.Mergulhar no Sena poderá em breve se tornar realidade.
De olho na candidatura de Paris para a Olimpíada de 2024, a atual prefeita, Anne Hidalgo, quer sanear completamente as águas do rio que corta a Cidade Luz para organizar as provas aquáticas no melhor cartão-postal possível. A ideia é delimitar algumas zonas de banhos, em caráter experimental, já a partir do ano que vem.
Resta saber se, desta vez, será para valer ou se a promessa mais uma vez naufragará no fundo do rio.