A Venezuela está vários passos adiante da crise política e da intransigência.
Este colunista lamenta pelo lindo país e pelos queridos amigos que tem lá, mas a situação institucional da Venezuela é o exemplo a não ser seguido.
E não adianta simplificar a frase acima. O tema resulta de um governo autoritário e de uma oposição fragmentada, com setores que também não podem ser definidos como democratas. O mundo anda com rumos incertos. E a Venezuela é a caricatura que resume tudo isso. Outro dia, escrevi este texto, em que falo no temor de que o Brasil, por conta da intransigência generalizada e de visões totalitárias, atinja esse grau tão elevado de insanidade.
Pinço frases de um militar que diz zelar com isenção pelos interesses nacionais. É o que diz o general Vladimir Padrino, ministro venezuelano da Defesa, sobre a lei que o Legislativo já aprovou e que mesmo assim ainda não foi sancionada. É uma lei que anistia opositores políticos. E o que teriam feito esses opositores? Teriam incitado a violência, diz o governo. Além de ser subjetiva, essa suposição ignora que a maioria dos mortos em manifestações contra o governo são opositores em confronto com a polícia, que... é do governo!!! Mas quem está preso e não pode ser solto é gente que comete o crime de se opor ao governo. Sério, isso chega a me deixar sem respiração, com alguma náusea. Então, feito o devido contexto, relato frases do general Padrino, ditas na quarta-feira.
"Consideramos isso um projeto de lei que atenta contra a paz da República e que atenta contra a democracia".
"A lei corresponde a uma violação da Constituição".
"A lei atenta contra o Estado de Direito e questiona a legalidade".
"A anistia provocaria uma decomposição institucional e moral na população".
"A anistia traria consequências nefastas", porque ameaça "a estabilidade das instituições democráticas".
"Esta lei propõe apagar todos os crimes cometidos em traição à Pátria".
"A lei atenta contra a disciplina das Forças Armadas e a honra militar".
Sim, as frases que vocês leram acima tratam da aprovação de uma anistia para presos políticos, gente que o governo insiste em dizer que é a causa de todos os confrontos campais em que, curiosamente, morreram oposicionistas mediante a repressão da polícia que é do governo. Sério, gente, isso cansa muito.
Mas, em termos de responsabilizar o outro, certamente uma medida adotada agora também é de responsabilidade da oposição ou dos empresários que boicotam ou do imperialismo ianque que quer comer crianças venezuelanas.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, decretou que as repartições públicas não trabalharão às sextas nos meses de abril e maio como parte das medidas de emergência para economizar energia diante da queda drástica do volume de água nas hidrelétricas.
Maduro anunciou na noite de quarta-feira:
"Teremos fins de semana mais longos durante os quais precisamos aumentar o aporte da administração pública nacional, estadual e municipal".
A medida foi anunciada durante o programa semanal de TV do deputado chavista e ex-presidente da Assembleia Nacional Diosdado Cabello.
Há algumas semanas, as repartições públicas já vêm funcionando apenas pelaa manhã. O setor privado também está sujeito a medidas. Shoppings em todo o país só recebem energia elétrica do meio-dia às 19h.
O sentido de urgência aumentou no início desta semana, quando a estatal Corporação Elétrica Nacional (Corpoelec) informou que o volume de água da represa Guri (a maior, no sudeste venezuelano), onde fica uma central hidrelétrica responsável pelo fornecimento de 63% da energia no país, baixou para 243,94 metros acima do nível do mar, índice mais baixo da história.
Nesta quarta, o nível desceu para 243,66 metros. Caso fique abaixo de 240 metros, não haverá água suficiente para manter as turbinas funcionando, e a central seria desligada, provocando um apagão generalizado.
O fornecimento de água também está afetado. A maioria das residências no país está submetida a racionamento. No edifício onde reside a reportagem, numa área nobre de Caracas, só há água durante uma hora e meia por dia.
A oposição admite os efeitos da seca, mas acusa o governo de ter desviado verbas destinadas a investimentos no setor hidrelétrico e de ter falhado em criar infra-estrutura para se precaver.
Outros países, como a Colômbia, também sofrem os efeitos da seca, mas o racionamento não atinge as mesmas proporções que na Venezuela.
Maduro pediu à população "máxima consciência" na hora de usar energia elétrica. Além dos problemas ligados à falta de água, venezuelanos enfrentam desabastecimento de dois terços dos produtos de primeira necessidade, inflação anual superior a 200% e índices de violência semelhantes aos de países em guerra. Tudo, claro, em razão de um suposto boicote, assim como oposicionistas morreram porque seus próprios líderes incitaram a violência e a reação policial.
Sobre racionalização de energia venezuelana, entenda e saiba mais, em tópicos:
Maduro decretou que, nos próximos dois meses, haverá feriado nas sextas-feiras como parte de um "plano especial" para poupar energia elétrica diante da severa seca provocada pelo fenômeno El Niño.
O decreto estabelece "todas as sextas-feiras como dia não laboral, a partir da sexta desta semana" e até o dia 6 de junho, disse Maduro ema mensagem na TV.
Após fazer um "apelo à consciência nacional" para que todo o país apoie a iniciativa, Maduro também ampliou para nove horas diárias o racionamento elétrico para shoppings e hotéis, que já vigorava desde fevereiro passado.
Após o governo venezuelano declarar toda a Semana Santa como feriado para poupar água e eletricidade, Maduro admitiu que o país enfrenta "uma situação extrema" pela queda dos níveis das 18 represas do país.
Maduro também exigiu que as indústrias estatais reduzam o consumo de energia em 20%, do mesmo modo que a administração pública. A Venezuela, que viveu uma dura crise elétrica em 2010, ainda sofre constantes apagões, especialmente nas províncias.
PS: outro dia, escrevi em tom crítico sobre o bolivarianismo. Um leitor me perguntou por que tenho opinião tão negativo em relação a esse movimento que se diz libertador da pátria-mãe latino americana. Por quê? Ora...
1) São governos autoritários, que usam de artifícios para afastar qualquer possibilidade de contraditório, algo daninho para democracias.
2) São governos que usam de truculência, como no caso do presidente venezuelano que mandou prender adversário e não quer soltá-los.
3) São governos que acertam ao diminuir diferenças sociais, mas erram muito ao explorar um produto único e dele ser dependente - como no caso venezuelano em relação ao petróleo, que responde por 95% das suas exportações - para sustentar esse sistema visto como "populista" por seus detratores.
4) São governos que parecem debochar das pessoas. Exemplo? Quando Maduro disse ter visto um passarinho e conversado com ele depois de concluir que fora incorporado pelo espírito do próprio Chávez. Passarinho médium! De duas uma: ou ele falava sério, ou se aproveitada da fé alheia. As duas hipóteses são graves.
5) Em razão de uma cega visão anti-EUA, de discursos por vezes vazios contra o "império" culpado até pela una encravada, esses governos se aliam com o que existe de mais totalitário e obscurantista no mundo. Exemplo: o iraniano Mahmoud Ahmadinejad, perseguidor de homossexuais e negador do Holocausto (sim, nega até aquilo que ainda tem testemunhas vivas para contar...).
Ah, sobre esse último tópico, claro, esses governos se juntam também porque têm interesse comum no petróleo. E, sobre a "maldição do petróleo", também andei escrevendo um artigo, que fala da maldição que ele representa.