A aparição da ex-presidente argentina Cristina Kirchner para depor à Justiça argentina no Tribunal de Comodoro Py teve duas situações inversas. Ao mesmo tempo em que se recusou a falar sobre suposto manejo irregular de dólares, Cristina soltou o verbo. Entre outras declarações de efeito, ela disse que, se depender do atual governo, do rival Mauricio Macri, a letra "K", de "Kirchner" e "kirchnerismo", será retirada do vocabulário. Uma frase para a galera, claro.
Mas houve alguns recados. E um deles parece endereçado ao Brasil, nome não citado por ela. A ex-presidente argentina disse que o atual governo de Macri adota uma metodologia para caluniá-la que vem sendo aplicada em outros países sul-americanos. A afirmação consta, inclusive, em um documento entregue à Justiça por Cristina, que chama o projeto político macrista de "Plano de Ajuste e Miséria" e afirma que esse modelo "volta a requerer calúnia e difamação para ser implantado, sob o pretexto de que os líderes que defendem os interesses populares e nacionais são irremediavelmente corruptos".
O texto ainda diz que "essa metodologia não é só claramente visível em nosso país, mas também se replica em escala regional, como um molde desenhado por especialistas de outras latitudes". Evidentemente, inclui a oposição brasileira.
A Justiça recebeu o documento na manhã de quarta-feira, data para a qual estava marcado o depoimento de Cristina sobre a venda de dólares no mercado futuro a um preço abaixo do de mercado. Foi assim que ela "depôs".
O juiz Claudio Bonadio, responsável pelo caso e desafeto da ex-presidente, estima que as operações financeiras realizadas pelo Banco Central do país no fim do ano passado, durante os últimos meses do governo Kirchner, causaram prejuízo de R$ 19 bilhões aos cofres públicos.
Milhares de manifestantes seguem Cristina desde que ela chegou a Buenos Aires para depor em Buenos Aires na noite de segunda-feira, vinda da província de Santa Cruz, o berço do kirchnerismo, no sul do país.
Também houve manifestação contra Cristina.
Enfim, um roteiro que parece tomar conta de toda a nossa castigada região.