No início do século passado, um jovem publicitário português foi encarregado de criar a campanha de lançamento de um novo produto: um refresco gasoso, de cor escura e nome curioso.
Quando provou Coca Cola pela primeira vez, Fernando Pessoa - que por sorte abandonou a propaganda para tentar a literatura - escreveu: "A princípio estranha-se, depois entranha-se".
Em poucas palavras, o grande poeta antecipava a resistência inicial à novidade e o impressionante sucesso que veio a seguir.
O cliente aprovou o slogan, mas não o ministro da Saúde de Portugal, que vetou o produto e sua campanha gerando um paradoxo sem solução. Primeiro, alegou que a mensagem induzia ao consumo de substância ilegal e, mesmo quando provado que Coca não era Ina, manteve a proibição, pois nesse caso, se tratava de propaganda enganosa.
É fato. Mudanças causam desconforto e novidades incomodam.
Por exemplo, a nova superedição de ZH que está nas suas mãos. Mesmo que você saiba que ela atende a uma outra lógica de consumo de comunicação e que centenas de profissionais trabalharam pra melhorar sua experiência de leitor contemporâneo, desconfio que ainda asim poderá se incomodar com a mudança e a princípio até implicar com as novidades
- O que fizeram com a Zero Hora?
- O que aconteceu com a edição dominical?
- Espero que pelo menos tenham colocado duas palavras cruzadas!
Não estamos mais em 1927, já deveríamos saber que inovações acontecem em um velocidade cada vez maior - e independentes de nossa vontade.
O futurista americano Ray Kurzweil afirma que, nos próximos 100 anos, a humanidade assistirá a mudanças equivalentes às que aconteceram nos últimos 20 mil anos. Não só a velocidade das mudanças é exponencial, a aceleração também é.
Como reagir a esta vertiginosa espiral de inovações?
Por sorte, a qualquer tempo, visionários antecipam o que está por vir.
Testemunhando a épica passagem porto-alegrense dos Rolling Stones, gigantes da indústria da música, é quase fácil esquecer que há 50 anos foram pioneiros do movimento underground que revolucionou o século 20. Já o cineasta Francis Ford Coppola, outro jovem de 76 anos, está testando um novo conceito de mídia: o Cinema ao Vivo ("Live Cinema").
"Distant Vision" foi apresentado em Oklahoma e transmitido ao vivo via
internet para Paris, New York, Los Angeles e, claro, Napa Valley.
"Não é teatro filmado, não é cinema, nem TV. É algo completamente novo e diferente, ainda sem definição"
Coppola fala como um profeta dos novos meios, afirma que a televisão e o cinema estão se tornando a mesma coisa e se declara fascinado pela evolução que está acontecendo nos meios visuais. O diretor cita o exemplo do impacto causado pela ópera no século 18, que revolucionou o espetáculo, ao reunir música, teatro, canto e cenografia. Segundo Coppola, a linguagem do audiovisual passará por uma inovação similar: "Os horizontes são imensos. E nem mesmo nossos preconceitos e resistências poderão deter o que vem pela frente".
Portanto, relaxe. Você não vai precisar de muito esforço pra gostar da nova ZH e, antes que fique tentado a reclamar, saiba que as notícias serão atualizadas na edição de ZH Domingo Digital.
Se mesmo assim você não conseguir curtir, não se preocupe. A própria história do Rio Grande está povoada de gloriosos exemplos de resistência a mudanças e inovações. Segundo um velho provérbio campeiro, "não se troca os bois da carreta no meio do barro".
Só não esqueça: foi sempre a inovação que nos empurrou para fora dos atoleiros.