Há coisas e pessoas que somem da nossa frente, como o Capilé. Pablo Capilé sumiu da nossa vista, mas claro que anda por aí. Pra quem não lembra, ele se afirmou como guru de jovens e de velhos nas passeatas do inverno de 2013.
Mas Capilé só olhava as marchas de fora, refletia e agitava. É o cara do coletivo Rede Fora do Eixo e do jornalismo alternativo da Mídia Ninja. Eu vi Capilé numa entrevista ao grande Antônio Abujamra, em 2014, no programa Provocações, da TV Cultura. Abujamra perguntou se ele acreditava em reencarnação, ou algo assim, e o que ele gostaria de ser se voltasse outra vez ao mundo.
Capilé disse que gostaria de voltar mulher, para poder enfrentar preconceitos. Eu gosto da agilidade mental do Capilé, da reflexão elaborada, da facilidade com que se expressa. Mas ele não aparece mais na TV nem nos jornais.
Lobão chegou a desafiá-lo para um duelo num debate, mas Capilé se recusou. Fez bem. Lobão só tem a frase básica, do sujeito que corre atrás de um predicado para desaforar alguém. Faltam instrumentos a Lobão para um debate com Capilé.
Capilé desapareceu da mídia convencional. Surgiu então, mas andando em direção contrária, o Kim Kataguiri. Capilé fazia aquele estilo de guru blasé, com a conversa de que não queria ser líder de ninguém. E o Kataguiri tem essa fleuma bíblica de quem nasceu com a missão de conduzir a juventude a algum lugar que o ultraconservadorismo adulto indicar.
O rapaz tentou, no ano passado, conduzir um grupo a Brasília, numa marcha patética pelo impeachment, atossicado por raposas golpistas que o abandonaram no caminho. Saiu com 30 pessoas de São Paulo e chegou a Brasília com nove.
O Brasil retrocede tanto, que trocamos Capilé, que lê Nietzsche, por meninos que leem Reinaldo Azevedo, falam como o Bolsonaro e escrevem como o Caiado. Nada é mais triste do que um jovem conservador.
Capilé deixou de ser midiático, mas dizem que andou em Porto Alegre no Fórum Social Mundial. Por que Capilé não tem mais o charme de 2013?
É fácil responder, depois de se ver os adolescentes que invadiram as escolas de São Paulo contra o projeto de fechamento dos colégios do governo do Estado e que agora voltam às ruas contra o aumento das passagens dos ônibus.
A fila andou para a turma do Capilé. Os guris dos protestos de 2013 têm 20 anos ou mais. E o pessoal que agora estremece São Paulo não deve confiar em ninguém com mais de 20 anos. É provável que eles nem saibam quem é o trintão Capilé.
Transgressores envelhecem cada vez mais rápido. Pena que não tenha surgido ninguém mais com a verve do Pablo Capilé.