Morreu o meu amigo Alexandre. Nos últimos três anos, o engenheiro civil Alexandre de Oliveira Caetano esteve rondando o que eu escrevia. Não para ler passivamente, mas para questionar, sugerir, indagar. Com seus e-mails, Alexandre me mantinha alerta.
Ele representava para mim a síntese da figura do leitor destes tempos de interação intensa. Era bom receber um comentário de Alexandre, mesmo os que traziam textos enormes.
Comentava tudo. A ameaça de impeachment, as "más companhias de Dilma", a inflação, o desemprego, a crise da classe média. Ele mesmo era um engenheiro desempregado.
Nessas conversas, fiquei sabendo de seus sonhos e desesperanças e de como pretendia lidar com sua situação pessoal. Separado, longe do filho, planejava produzir comida pronta em marmitas, enquanto se dedicava à marcenaria.
Alexandre também abordava com desenvoltura jornalismo, arte, história, literatura, invariavelmente com um humor ácido. Os e-mails vinham sempre com este assunto no alto do cabeçalho: Notícias do front.
Até que em maio me informou que descobrira um câncer. Passei a acompanhar as informações sobre exames, internações, quimioterapia, avanços e recaídas. Em dezembro, avisou que havia sido internado de novo e que as notícias não eram boas. O último e-mail que recebi dizia que ele estava no sétimo andar sul do Hospital de Clínicas. O texto encerrava assim: Rumo à vitória!
Não fui visitá-lo, mesmo que Alexandre começasse todas as mensagens com a palavra amigo. No final de dezembro, perdemos contato (ele às vezes desaparecia por semanas). No dia 7 de janeiro, abri um e-mail com seu nome (eng.alexandre@...) e lá estava o mesmo assunto: Notícias do front.
Informava: "Boa tarde, sr. Moisés. Quem responde a este e-mail é a irmã do Alexandre". E logo abaixo a notícia: "Estou lhe comunicando porque verifiquei que solicitaste notícias dele e, infortunadamente, ele não conseguiu vencer a batalha contra o câncer". Meu amigo morreu no dia 29 de dezembro.
Foi estranho ver o e-mail de Alexandre com a notícia da sua morte. Fiquei sabendo então que ele havia, dias antes, passado a senha à irmã, Vanessa, talvez pressentindo o que iria acontecer.
Alexandre tinha 40 anos. Na sexta-feira passada, Vanessa me mandou uma foto do amigo que nunca vi e de quem nunca ouvi a voz e que, nesses três anos, me fez companhia virtual como se estivesse ao meu lado.