Não se trata de exagero ou manchete desesperada por atenção, é só o fato cru e definitivo a deixar ansiosa a torcida do Inter outra vez. Serão dois mil argentinos, 45 mil outros estarão vestidos de vermelho para gritar a plenos pulmões pelo possível, ainda que improvável.
Mesmo no tempo em que o Inter competiu com o River Plate no jogo da ida, nunca foi melhor do que o anfitrião. Num esforço físico extraordinário, conseguiu amordaçar o time de Martin Demichelis longe do próprio gol, fez com que ele se preocupasse com suas estocadas em contragolpes e, na bola parada, chegou ao gol que seria o da vitória se no segundo tempo a Terra não tivesse girado 180 graus.
Muito mais pela qualidade do River Plate do que por decisão do Inter, o jogo passou a se desenvolver no campo colorado. Antes mesmo da entrada de Solari, os argentinos encurralavam o visitante, que já não dispunha do mesmo fôlego, e se obrigou a resistir dentro do seu possível. O River Plate virou e, desgastado, parou de perseguir com a mesma volúpia o terceiro gol que deixaria sua classificação previamente encaminhada.
Voltei ao jogo de terça-feira passada e nem vou me deter no deste sábado contra o Corinthians porque haverá um ano inteiro concentrado em duas horas na noite de oito de agosto. O cenário eleitoral para o atual presidente não é favorável pelas coisas do campo, mas uma saída da Libertadores nas oitavas tornaria mais pesado o combo que aflige Alessandro Barcellos.
Com o dinheiro disponível, só conseguiu trazer jogadores cuja utilização se daria no segundo semestre. Já tinha sido assim no ano passado, o contexto de ter ficado só com o Brasileirão para jogar em 2022 foi fundamental para a vaga direta na Libertadores pela segunda posição no campeonato brasileiro.
O 2023, no entanto, pouco mostrou os dentes para esta direção e, por extensão, à torcida do Inter. Logo, uma eventual eliminação para o River Plate, algo que seria natural em qualquer contexto diante da grandeza do adversário, na verdade se somaria a todos os fracassos recentes e os nem tão recentes do time dentro do campo.
Com a distância de pontos em relação ao líder no Brasileirão, está claro que o Inter não é candidato ao título que não ganha desde 1979. Então, ainda que adiante o time de Coudet tivesse que enfrentar o Flamengo ou Fluminense na próxima fase da Libertadores, esta é a competição menos inviável de ganhar neste ano.
Passar pelo River Plate seria como um salvo-conduto para esta direção e um afago na machucada alma de colorados e coloradas que não comemoram título desde 2016. Por crueldade do destino, o ano em que o Inter é rebaixado.
Todos estes fatores de risco estarão nas chuteiras dos jogadores colorados a partir das nove da noite da próxima terça-feira. Não havendo tempo para um restabelecimento pleno da avariada condição física dos jogadores, o que resta é mudar a atitude deles na hora grande.
A Coudet, cabe acertar a pleno todas as escolhas que fará. Do time titular às trocas durante a partida, o treinador não está autorizado a erro caso queira mesmo que seu time elimine o outro que lhe é superior. Este pacote de acertos não se fez presente na noite de Buenos Aires. Jogadores como Maurício, por exemplo, passam a ter papel fundamental na ideia de um fato novo que incendeie a torcida e a faça parceira incondicional do time.
Repetir peças que vêm dando errado, casos de De Pena e Wanderson, pode agastar quem for ao Beira-Rio. Não é impossível, absolutamente, que o Inter vença o River Plate por um gol de diferença e leve a decisão para os pênaltis. Não é impossível, embora seja improvável, que o Inter consiga ser tão extraordinário em relação a si mesmo a ponto de fazer a diferença de dois gols que lhe garantiriam classificação às quartas dentro dos noventa minutos.
Cada um é gigante em seu país, ninguém chega num jogo desses previamente eliminado. Seria diferente caso um tivesse goleado o outro na ida. Porém, mesmo o torcedor apaixonado sabe, nalgum cantinho de sua alma sofrida, quando o outro time é melhor do que o seu. Neste caso, tem duas opções se estiver dentro do estádio. Uma, gritar até rasgar os pulmões para mobilizar sua equipe a uma epopeia. Duas, esperar seu time, por atitude e indignação, cativar sua esperança e só a partir daí entoar os cânticos que levem o Inter à estratosfera.
Lá por onze e pouco da noite da próxima terça-feira, saberemos todos se o ano terá recomeçado, como só o futebol pode proporcionar, ou se terá acabado e todo restante da temporada será um sangrar lento e dolorido até que tudo se acabe e a eleição defina novos rumos para o Inter.
Enquanto isso...
O Juventude renasce em silêncio a partir do acerto da direção do clube em trazer Thiago Carpini para o lugar de Pintado, que no auge do seu trabalho tinha levado o clube de volta à Série A. Desta vez, nada dava certo desde o Gauchão. O temor que se espalhava em Caxias do Sul era de um rebaixamento vexatório à Série C.
O técnico vindo do Água Santa está transformando a temporada numa onda espetacular de esperança de que o Juventude vai subir à Série A. A maturidade de Thiago Carpini, ainda que se trate de um jovem na profissão, promove uma espécie de milagre no Juventude, ainda que de milagre não se trate e sim de muito trabalho.