Há quem diga que a única diferença entre a convicção e a teimosia é o resultado. Se o time vence, o técnico teve convicção. Caso perca, o treinador foi teimoso. Não deixa de ser uma leitura, mas talvez simplifique demasiadamente algo que, na verdade, tem outros tons entre o branco e o preto. Eduardo Coudet, por exemplo, é um sujeito de convicções, por isso foi trazido da Argentina para romper o conceito anterior de futebol do Inter.
Porém, se é convicto por insistir no seu modelo de futebol, está sendo teimoso ao brigar com o que o campo está lhe mostrando. Só teimosia explica a manutenção de um meio-campo tão capenga.
Torto, para ser mais específico. Se o setor ideal tem, em doses generosas, força, velocidade, movimentação e criatividade, o meio-campo do Inter só oferece força como quesito atendido por Musto, Lindoso e Edenílson.
Nem estou considerando D'Alessandro como integrante, já que está adiantado para jogar perto de Guerrero. Na Colômbia, a dificuldade colorada com a bola na saída da defesa para o meio foi assustadora. O empate foi saudado como resultado bom fora de casa por Coudet na coletiva pós-jogo e ele tem suas razões.
Nenhum brasileiro venceu em Ibagué até hoje. Mas para quem vem romper conceitos, ficar satisfeito com desempenho tão insuficiente só porque outros times não conseguiram vitória jogando lá contra o Tolima não casa.
Agora, o Beira-Rio. Marcelo Medeiros deu ao treinador opções de meio e frente que tornam falacioso o argumento de que Coudet não tem peças para jogar do jeito que quer. Tem, sim. E não são poucas. Ele, por legítima e equivocada escolha, é que prescinde dos jogadores de aptidão ofensiva para teimar com peças inadequadas para suas boas ideias de futebol.
O Inter precisará ser criativo em casa para fazer gol e vencer. Será outro mundo, como diz meu amigo Luciano Potter, depois que o Inter ingressar na fase de grupos. Jogadores serão contratados e talvez Coudet destrave seu meio-campo porque, afinal, terá passado o risco de o ano começar terminando.
Cheguei a tratar nesta coluna do pragmatismo de Coudet antes do primeiro enfrentamento contra La U. De lá para cá, porém, não vi um passo de evolução do time na direção de um futebol mais contemporâneo e, enfim, mais diferente do que o Inter praticava com Odair.
Aliás, em Ibagué, Guerrero viveu momentos de desamparo muito parecidos com os que vivia em 2019 fora de casa. A diferença é que agora o Inter tem a bola mais tempo do que o adversário. Antes, jogava por uma bola, marcava baixo e tentava controlar o jogo assim. No Inter de 2020, a marcação é mais alta e a bola fica mais nos pés de quem veste vermelho. O destino dado à bola, no entanto, não tem ruptura alguma. No máximo, até aqui, transição.
Coudet é pago para tomar decisões. Logo, todas elas são legítimas. No jogo da última quarta-feira, me chamou a atenção uma mudança de comportamento dos frequentadores de redes sociais. Sim, sei que é o território livre do linchamento, mas até o gre-nal havia muito mais colorados e coloradas defendendo Coudet das críticas deste ou daquele jornalista.
Após os 90 minutos sofríveis na Colômbia, não foi deste jeito. Em grande quantidade, torcedores e torcedoras reclamavam do que tinham acabado de ver na televisão. Falavam de um futebol pobre, mal jogado, cujo resultado teria sido apenas e tão-somente manter o Inter vivo para o Beira-Rio.
Pois bem, aí está. O Inter está vivíssimo para jogar em casa com 40 mil pessoas dispostas a apoiar e comemorar a entrada na fase de grupos da Libertadores. A tarefa serão tanto menos difícil se Eduardo Coudet parar de brigar com o que o campo lhe oferece.
O time precisa mudar no meio-campo. Para destravar. Para criar. Para fazer gol. Para se classificar. Para, finalmente, virar um real candidato ao título. É preciso que Coudet mantenha-se convicto, mas deixe de ser teimoso. A RBSTV transmite quarta-feira às 21h30min.