Liverpool x Flamengo é o mais equilibrado confronto recente entre europeus e brasileiros no Mundial de Clubes. Os dois viveram momentos tensos na semifinal, ambos passaram por seus adversários confirmando a lógica mas não a suposta facilidade que teriam enfrentando times tecnicamente bem inferiores. É a primeira lição que fica deste Mundial 2019. Cada vez mais, a estratégia é capaz de diminuir distâncias entre favorito e desafiante.
O Flamengo teve no Al-Hilal um adversário que estudou cada movimento flamenguista em campo e conseguiu reproduzir, por todo o primeiro tempo, o modelo que o River Plate usou na final da Libertadores para parar o Flamengo. Árabes e argentinos viveram o mesmo problema: para conseguir segurar o Flamengo, os dois times se esforçaram em proporções inatingíveis por 90 minutos. E na hora em que a intensidade caiu, o Flamengo cresceu e abocanhou o jogo para vencer.
O Liverpool poupou jogadores essenciais contra o Monterrey e ganhou só na reta final do jogo. Não vou escrever que foi injusto porque os gols foram feitos na lei do jogo e premiaram o melhor. Porém, o sofrimento causado pelos mexicanos foi enorme. O time inglês é melhor do que o do Flamengo e é testado a cada quarta e domingo, enquanto o Flamengo tem amostragem menos representativa e não autoriza apostas certeiras quanto à vitória sobre Liverpool no sábado (21).
A conquista é possível e viável, o treinador tem topete e formatou uma equipe agressiva e irresignada na adversidade. Assim virou contra o River para ser campeão da Libertadores e virou agora contra o Al-Hilal. Mas a diferença técnica entre Liverpool e Flamengo existe, sim, recomenda cuidados adicionais com o trio Salah, Mané e Firmino. O nível de concentração para parar um ataque desses requer ineditismo.
Jorge Jesus reconhece nesta partida a mais importante da carreira. Jurgen Klopp só agora veria o Flamengo jogar. Bom para o Flamengo. Uma vitória brasileira não será um despropósito, significará que os jogadores se superaram e Jorge Jesus, como nunca antes, terá vivido momentos de glória e afirmação na carreira.
O círculo virtuoso está estabelecido no Flamengo, parece mesmo independente das pessoas que vão dirigir o clube. Se vier o título mundial em cima do Liverpool, não duvido que o próximo passo seja um desmanche deste Flamengo. Gérson, De Arrascaeta, Everton Ribeiro, Gabriel e Bruno Henrique despertam antes mesmo da final deste sábado o desejo dos mais endinheirados clubes europeus. Caberá ao Flamengo, na hipótese da conquista do Mundial, montar imediata e competentemente um novo time que seja competitivo. Afora o caminhão de dinheiro que vai entrar, não haverá facilidade qualquer na missão.
O Liverpool já fez o que lhe cabia. Manteve a escrita europeia de nunca ter parado no meio do caminho em Mundiais. O treinador alemão poupou jogadores, pareceu-me um certo descaso com o time mexicano. Algo do tipo "vou mostrar que ganho quando quero". De vez, não há mais numa decisão de campeonato alguém que entre de turista acidental. Se chegou, pode levar.