Imagine estar no lugar de Zé Ricardo neste domingo (10) para escalar e formatar o Inter contra o Fluminense no Beira-Rio. Ambiente minado, emocional em pedaços e confiança abaixo da linha da pobreza formam o combo colorado diante de uma equipe que acaba de sair do Z-4 com vitória no Morumbi sobre o São Paulo. Dureza para Zé Ricardo ou para você, se fosse Zé Ricardo. Porque não há rumo no Inter em novembro de 2019.
O novo treinador sabia o que estava por vir quando aceitou o convite do amigo Rodrigo Caetano. Trabalharam juntos no Flamengo, imaginaram que a dobradinha poderia dar certo no Inter para o objetivo mínimo de garantir vaga na Libertadores, ainda que fosse em G-6 ou G-7. O fato é que não está funcionando. O Inter saiu da zona de seletiva, embora possa muito bem voltar nesta rodada mesmo se vencer o Fluminense e resultados paralelos ajudarem. O problema é maior.
A questão é conseguir se libertar do conceito ultrapassado e conservador de futebol onde o medo rege o resto. O Inter enfrentou o Ceará com meio-campo de Lindoso, Patrick e Bruno Silva. Não há jeito de deixar tanto receio de lado, ainda que este modelo retrógrado não tenha rendido título contra o Athletico PR na Copa do Brasil. Ao mesmo tempo, veja que curioso, o Inter estaria acertado para 2020 com Eduardo Coudet, um treinador argentino que não transige quanto a montar times ofensivos. Parece que para a próxima temporada a ruptura virá. Até lá, porém, é preciso definir um rumo. A nau à deriva que o Inter é hoje precisa ser direcionada para algum rumo. E será sob a desconfiança de um Beira-Rio cheio de colorados e coloradas legitimamente desconfiados. A missão dobra de dificuldade.
Vida de treinador é assim. Zé Ricardo disse, na primeira coletiva, que não poderia desperdiçar a chance de trabalhar no Inter mesmo que fosse só até dezembro. Está com a guilhotina apontada desde a chegada e pensou que daria resposta rápida à demanda colorada. Não aconteceu, mas ainda pode acontecer se ele encontrar um norte e, especialmente, pensar pela própria cabeça. Assim, pelo menos saberá que teve sucesso ou insucesso a partir das próprias ideias. Vale para Zé Ricardo, vale para qualquer técnico contratado em início ou meio de temporada. É parte do ofício dos treinadores.
Renato Portaluppi
Veja Renato Portaluppi. Seu time levou um quinteto do Flamengo na eliminação da Libertadores e não faltaram arautos do juízo final sugerindo que se voltasse ao épico e se abandonasse o artístico. O treinador gremista sequer cogitou a hipótese, no que foi escudado pelo presidente Romildo Bolzan Júnior que, aliás, imediatamente deixou clara a intenção de renovar com Renato para o ano que vem. O modelo não foi trocado, o conceito está mantido e clube e técnico já negociam o contrato de 2020. Renato Portaluppi é o melhor treinador para comandar o inevitável novo ciclo do elenco.
Pelo menos 10 jogadores precisam ser trocados. Seriam cinco novos titulares e cinco reservas de boa ou muito boa qualidade. Onde buscar? Mercado e base, base e mercado. Ao negociar a renovação, Renato sabe que seu horizonte de clubes de alto rendimento está reduzido. O melhor a fazer é ficar no Grêmio. O presidente do clube, por sua vez, tem exata noção da dificuldade enorme que seria substituir com sucesso uma figura como Renato. O novo técnico precisaria ter ombros largos para sustentar o piano da saudade do treinador anterior.
Onde buscar alguém assim tão competente e de tanta personalidade para não haver quebra de desempenho? Então, Romildo e Renato negociarão e acertarão para o ano que vem. Então, a vida de treinador de Renato Portaluppi terá o espinhoso capítulo de encerrar o ciclo de alguns dos jogadores que estiveram com ele nos melhores momentos. Ao mesmo tempo, o prazer de ir à base garimpar talentos ao mesmo tempo em que requisita do mercado jogadores aptos para enriquecer a qualidade do grupo de jogadores.
Renato sonha com seleção, direito seu. Para recolocar seu nome com força como opção, seja para a época que for, sabe que precisa manter em alta a performance na casamata, o que só se sustenta com títulos relevantes. Neste Grêmio onde é senhor dos anéis, Renato está à vontade para retomar um período vitorioso. Mesmo que perca Everton na próxima janela, deve contar com a promessa de Romildo de que o elenco será melhor do que este com o qual terminará o Brasileirão.
Jorge Jesus
Jorge Jesus tem contrato com o Flamengo até o meio do ano que vem. Deverá ser campeão brasileiro antes do dia 23, quando decidirá a Libertadores com o River Plate. Até o 5 a 0 sobre o Grêmio, o português conseguia manter a combinação vitória/encantamento que o transformou em notícia e referência no Brasil. O apelido Mister está na boca dos flamenguistas. Recentemente, o Flamengo andou vencendo jogos sem brilhar, acaba de ocorrer contra o Botafogo.
Há jogadores descontados, outros machucados, falta definir a permanência ou não de Gabigol e os conflitos decorrentes de uma corda tão esticada acontecem sob as câmeras. Creio que o Flamengo será também campeão da Libertadores. Então, caberá a Jorge Jesus decidir se avança 2020 adentro ou considera cumprida a missão logo depois do Mundial de clubes.
É intempestivo e competente, foi corajoso ao topar o desafio de mudar de continente em busca de desafios. Vai chamar a atenção do mercado nobre da bola outra vez e terá de decidir o que fará. Ele mesmo já confessou ter perdido três finais de torneios com o Benfica na Liga Europa. Jesus lida com desassombro com as coisas do futebol. Não tenho nenhuma certeza de que ficará no Brasil no ano que vem.
Tite
Tite chamou uma Seleção para enfrentar a Argentina no fim da semana que entra. Os rivais estão conseguindo remontar sua seleção com competência e novos nomes a dar esperança à torcida. Lautaro Martinez, o principal deles. O treinador brasileiro não desapegou da ideia de time que levou à Rússia. Este amistoso inútil contra a Argentina e o outro contra Coreia do Sul não vão mudar a vida de ninguém, mas se não houver nenhuma vitória Tite entrará pressionado nas Eliminatórias em 2020.
Até lá, precisa estabelecer um novo plano tático para sua seleção onde caibam, por exemplo, a exuberância de Gérson e Everton Ribeiro, do Flamengo. E, como sempre, dar jeito de fazer Neymar jogar todo futebol que tem no menor tempo possível.
Bolívar
Bolívar está a três pontos de alcançar os mágicos 45 que evitam rebaixamento. Só ele sabe o que está enfrentando de dificuldade afora os adversários nesta missão em Pelotas. Atraso de salário do grupo de jogadores é veneno para qualquer campanha, imagine então quando a qualidade técnica é insuficiente e o time precisa compensar com superação e esforço acima de todos os limites. O Brasil vai ficar mais um ano na Série B, tenho certeza.
Bolívar merecerá seguir à frente para o Gauchão e, no mundo ideal, o elenco xavante será melhor para o Brasileirão de 2020. Zagueiro vitorioso, Bolívar colocará no currículo o cumprimento de uma missão que chegou a beirar o inviável em determinado momento da competição. Vai somar muitíssimo na carreira promissora que está iniciando.