No próximo sábado (20), Inter e Grêmio vão se enfrentar pelo Brasileirão que recomeça neste fim de semana e, hoje, gremistas e colorados não fazem a menor ideia do que vão ver em campo. O jogo de xadrez das escalações e do valor atribuído ao jogo vai ser definido quarta-feira, nos jogos de volta da Copa do Brasil. Grêmio e Inter se atrapalharam nas partidas de ida com grande participação dos treinadores.
Renato Portaluppi e Odair Hellmann estão pressionados em níveis diferentes. Renato tem a idolatria como escudo, o que não impediu a Arena inteira de vaiá-lo pela primeira vez desde 2016, seu retorno mais recente e cheio de faixas. Renato errou a avaliação do jogo para fazer as trocas contra o Bahia e, na coletiva depois da partida, ficou incomodadíssimo com o confronto à sua ideia malsucedida de substituir Jean Pyerre em meio ao segundo tempo.
Já Odair não conta com esta proteção de ter sido ídolo como jogador e vê reverberar a crítica reiterada ao seu jeito de fazer o time jogar fora de casa. De fato, Odair cruzou contra o Palmeiras, quarta-feira passada, a fronteira entre a prudência e o medo. Na amostragem das redes sociais, a paciência da torcida chegou perto do limite. Nada que uma classificação sobre o Palmeiras no Beira-Rio não dê jeito de encerrar imediatamente.
O adversário é o mais difícil que há no Brasil. O Palmeiras se sente à vontade esteja onde estiver. Não creio que algum jogador de verde vá se impressionar com o rugido do Beira-Rio, e olha que é um rugido e tanto. A classificação gaúcha não é impossível, a margem da vitória paulista foi pequena. Porém, o Inter terá que ser épico contra o Palmeiras, que não leva dois gols de diferença numa derrota desde outubro do ano passado.
No caso do treinador do Grêmio, a dificuldade é menos o adversário muito bem treinado por Roger Machado e mais o contexto da Fonte Nova, que estará lotada e animada. Só vitória leva um dos times adiante. O Grêmio tem mais qualidade técnica individual do que o anfitrião, mas Renato estabeleceu algumas limitações injustificadas para o aproveitamento dos melhores talentos do grupo.
Disse que Jean Pyerre, Tardelli e Luan disputam a mesma posição e não podem jogar juntos. Mais: que o Grêmio só sabe jogar com centroavante de área. É uma revogação esquisita do acerto do time campeão da Copa do Brasil de 2016, que atuava com Luan de homem mais adiantado. O Bahia não vai atacar feito apaches à caravana mesmo estando em casa. O próprio torcedor baiano sabe que há uma diferença de potencial bem clara entre os times.
Roger parece ter prestígio hoje em dia de treinar até mesmo a torcida para não precipitar as coisas empurrando o time para sair do lugar. O Grêmio, por sua vez, ainda contará com Everton como seu protagonista maior. Partindo do princípio de que Renato não tire Jean Pyerre do time, ele precisará revisar seu estranho conceito de não somar talentos e fazer entrar Luan.
Antes, Renato e Odair testarão contra Vasco e Athletico-PR quais peças poderão aparecer de surpresa nos jogos decisivos da quarta-feira. O Grêmio perdeu estrada no Brasileirão, hoje não é candidato ao título. O time misto que entra em campo diante dos cariocas poderá dar uma luz ao treinador caso alguém se destaque o suficiente para virar homem-surpresa ou um modificador tático na necessidade.
O Vasco, humildemente, aproveitou o silêncio da parada para a Copa América para treinar à exaustão. Luxemburgo está motivado e, ao mesmo tempo, já disse nos microfones que o campeonato do Vasco é não cair.
Domingo, o Athletico-PR vai de novo tentar fazer valer o fator local do seu gramado artificial, onde a bola corre mais rápida e o dono da casa está adaptado a ponto de quase não perder ponto em Curitiba. O Inter deverá ter time misto e poupará seus protagonistas Guerrero e D'Alessandro. Quem aproveitar a oportunidade nascida desta preservação se candidata a virar personagem três dias depois contra o Palmeiras.
Na dependência
A definição dos times para o Gre-Nal passa pelo conjunto da obra de Grêmio e Inter no retorno ao Brasileirão e na classificação ou eliminação na Copa do Brasil. Se algum deles ficar pelo caminho, o Gre-Nal vai pesar toneladas e um resultado ruim pode precipitar uma crise de grandes proporções à beira da definição de vaga na Libertadores.
Caso ambos avancem na Copa do Brasil, o clássico poderá ser vilipendiado outra vez e será tomado por reservas lá e cá. Passando só um entre Grêmio e Inter, o eliminado não vai correr o risco de colocar reservas e tentará usar o Gre-Nal como catapulta para o que ainda vem por aí. O que me parece evidente é que gremistas e colorados não estão confiantes enquanto leem esta coluna.
Nenhum deles tem exata noção do que suas equipes podem fazer e se os treinadores, ao contrário da última quarta-feira, vão acertar desta vez nas decisões que são pagos para tomar. Gremistas e colorados estão impedidos até de brincar um com o outro sobre o futuro próximo de cada um, porque podem não ter do que achar graça depois. No mundo ideal dos gaúchos, passam os dois e o Gre-Nal da semana que vem desanuvia. Vai custar muito caro para ambos, mas é plenamente possível.