Sou admirador de Renato Portaluppi desde sempre. Gostava do seu jeito destemido de jogar pela ponta-direita, meias baixas a suportar no osso a pancada inútil dos marcadores. Seu cruzamento sempre foi precioso, nunca rifado. Embora não fosse um homem de conclusão, o que não fazia dele um artilheiro, também não era emérito desperdiçador das chances que lhe caíam. Enfim, Renato foi um atacante raro. Deveria ter ido à Copa do México e teria feito enorme diferença para o Brasil, mas futuro do pretérito é a inutilidade na potência máxima. Quando você o emprega, sabe que está entrando no pantanoso terreno das hipóteses que jamais se provarão porque, afinal, não aconteceram.
Como treinador, Renato também me impressiona. Formatou um time encantador em dado momento de 2018, quando teve Maicon e Arthur. Esta dobradinha se desfez. O primeiro, por lesões sucessivas que fizeram cair seu rendimento geral no ano depois de um primeiro semestre fulgurante. O segundo, porque foi fazer sucesso num dos mais midiáticos clubes do mundo, o Barcelona. Depois disso, o treinador gremistas tentou de um tudo em busca do encanto perdido. Conseguiu resultados bons o suficiente para ir até as semifinais dos torneios eliminatórios e ao quarto lugar no Brasileirão. Antes, conquistara o Gauchão, que não vinha desde 2010, e a Recopa. Este 2018, combinemos, não foi nada ruim para Renato e para o Grêmio. Tanto assim, que a renovação do técnico foi justamente comemorada como a primeira grande contratação para 2019.
Aí, vem o domingo da última rodada do campeonato, quando o Grêmio confirma vaga direta de Libertadores para o ano que vem. Renato já tinha avisado na sexta-feira (30/11) que comprara passagem para o Rio no voo das 20h, não falaria depois do jogo contra o Corinthians. Não foi o melhor a fazer. Certamente havia voo às 22h ou no primeiro horário da segunda-feira (3). O ritual da entrevista de fechamento do Brasileirão deveria – olha o futuro do pretérito aí de novo – ter sido cumprido. A cena de Renato dando uma bicuda na bola no apito do juiz e a corrida para os vestiários restou pitoresca. Mas, por favor, Renato Portaluppi, pela força da sua competência e do seu trabalho, é mais do que isso.
A cereja azeda do bolo viria na metade da semana passada. No mesmo horário em que deveria estar tendo o primeiro dia de aula no curso de licença Pro da CBF, onde se encontravam alguns dos últimos treinadores da Seleção e o atual, pintava nas redes sociais foto e vídeo de Renato na praia. Uma pequena bravata sem qualquer sentido, menos ainda para quem tem legítimas pretensões de treinar a Seleção Brasileira em curto ou médio prazo. Tipo da cena que só reforça o que deveria esmaecer na figura do treinador maduro e competentíssimo que Renato Portaluppi virou, isto é, volta e meia Renato ainda é capaz de pequenas estripulias que somam zero em sua vitoriosa carreira. É de mudar o curso da humanidade? Não, não chega a tanto. Mas é muito, muito desnecessário para quem se tornou um dos melhores treinadores da América do Sul.