A vitória retumbante de Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo mostrou a força da direita pragmática e o potencial de candidaturas discretas e de baixa rejeição. A atual gestão do emedebista é mal avaliada pelos paulistanos, e suas taxas de popularidade nunca foram altas. Isso inclusive ameaçou sua ida para o segundo turno diante de dois candidatos barulhentos: Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB). Mas ao final pesou a alta rejeição do psolista, além do peso da máquina pública e de uma ampla coligação de centro.
Termômetro importante para as eleições de 2026, a disputa na capital paulista também mostrou as limitações de Lula (PT) e Bolsonaro (PL) na transferência de votos. Mais uma vez, índice de rejeição poderá ser determinante para a vitória.
O prestígio de Lula, que teve mais votos do que o seu adversário na capital paulista em 2022, não bastou para vencer a desconfiança de parte dos paulistanos com a postura mais radical de Boulos. O resultado é uma derrota pessoal para o presidente, que insistiu no nome do psolista mesmo com a resistência de parte do PT.
Bolsonaro também sai menor da eleição porque, apesar de ter indicado o vice na chapa de Nunes, se negou a entrar de cabeça na campanha. Nos momentos críticos, em que Marçal abocanhava o eleitorado bolsonarista, o ex-presidente se recusou a participar de atos de campanha. Contrariado, gravou timidamente um vídeo na reta final da campanha pedindo votos no emedebista.
No sentido inverso, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) abraçou a candidatura de Nunes desde o início, e recebeu por isso uma enxurrada de críticas e xingamentos dos eleitores bolsonaristas que aderiram a Marçal.
Questionado nesta domingo (27) sobre o papel de Tarcísio e de Bolsonaro na sua campanha, Nunes fez questão de ignorar o ex-presidente, mas se desdobrou em elogios ao governador, usando todos os adjetivos que lhe vieram à cabeça.
— Hoje eu quero falar de retidão, fidelidade, lealdade, comprometimento. No momento onde eu dei uma caída na pesquisa, dias 28 e 29 de agosto, foi o momento em que o governador Tarcísio mais entrou na campanha. Isso demonstra o caráter, a lealdade. O que mostra a pessoa que ele é e a dignidade que tem. Um grande líder precisa ter estas qualidades — respondeu.
Mais do que definir os verdadeiros aliados de Nunes, a disputa na capital paulista abriu os primeiros caminhos para 2026. Tarcísio aumentou sua influência, ganhou mais poder na direita e respeito entre lideranças. Marçal provocou baixaria, espalhou notícias falsas e acumulou muita rejeição, mas também mostrou capacidade de ser relevante em uma futura disputa majoritária.
Boulos, apesar do apoio de Lula, fez menos votos do que seus aliados projetavam. Deve seguir como um dos principais nomes da esquerda, mas com o desafio de vencer resistências do eleitorado de centro se quiser alçar voos maiores.