Economista e professor da UFRGS, Marcelo Portugal comenta os descaminhos que colocam a Argentina em posição de desespero nas semanas que antecedem a disputa presidencial entre Sergio Massa e Javier Milei no segundo turno presidencial marcado para o próximo dia 19 de novembro.
O que Brasil e Argentina têm em comum na economia?
Ambos tinham três problemas macroeconômicos estruturais. O primeiro: inflação extremamente alta. Segundo: as crises cambiais, ou seja, a falta de dólares, com déficit de balaço de pagamentos. E quando isso acontece, é preciso dar o calote na dívida externa. E o terceiro é o descontrole das contas públicas. A gente volta e meia tem déficits e não consegue fazer o Estado caber dentro do PIB. Destes três problemas, o Brasil resolveu dois nos anos 1990.
E a Argentina?
Lá, a inflação segue descontrolada, falta dólar, o mercado cambial é controlado pelo governo e eles têm déficits gigantescos. O Brasil só conseguiu controlar a inflação com o Plano Real, em 1994, após várias tentativas de congelamento, como planos Cruzado, Verão, Bresser, Collor, etc. A falta de dólares e as crises externa e de balanço de pagamentos foram resolvidas em duas etapas. A primeira, em 1999, quando se cria a taxa de câmbio flutuante. Não falta dólar, o preço cai ou sobe, mas o mercado ajusta as condições. Depois, ao acumular R$ 380 bilhões em reservas internacionais. Aí, não há o que nos afete, porque se faltar dólar as reservas abastecem o mercado.
Qual a saída?
Os argentinos tiveram dúvidas se emitiriam a nota de 10 mil pesos, porque isso é confissão de que houve fracasso. Aqui, aprendemos que quando a inflação cai bruscamente há efeitos na economia. É que o déficit público aumenta muito porque as receitas são indexadas. O IPI, o ICMS, são percentuais do valor de um produto. Quando os preços aumentam, os impostos também, porque estão embutidos. A receita de impostos é indexada, mas a despesa, não. Ou seja, aprendemos com o Plano Real (a importância da estabilidade).