Nesta sexta-feira (25), a grande expectativa econômica do planeta está focada em um "buraco" que já foi um covil de bandidos, o cada vez mais famoso Jackson Hole, no Estado de Wyoming, nos Estados Unidos.
Com peso que se aproxima do Fórum Econômico Mundial em Davos (Suíça), Jackson Hole cresceu em relevância desde o início da decolagem da taxa de juro americana. A única parte pública da conferência é a manifestação do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Jerome Powell. Por mais discreta que seja, fará preço em todas as latitudes.
Como poucas vezes na história, há muita incerteza sobre os próximos passos do Fed. A inflação começou a ceder nos EUA, mas a economia segue aquecida. Isso faz com que exista dúvida se o juro americano - atualmente entre 5,25% e 5,5% - vai continuar subindo, ter uma nova pausa ou se já é possível projetar algum corte para o futuro próximo, como ocorreu no Brasil no início do mês.
Ou seja, por lá também se pode dizer que as expectativas estão "desancoradas". Então, as declarações de Powell serão analisadas no detalhe em busca dessa âncora. A expectativa é ainda maior nesse momento de hipótese de um "evento Lehman" na China, com temor de contágio do setor financeiro pela crise na construção civil simbolizada pelas dificuldades financeiras de gigantes como Evergrande e Country Garden.
Nos tempos do faroeste, o vale (daí o "hole", buraco em inglês, do nome) era conhecido como esconderijo de bandidos - com direito a desfiladeiros e tiroteios. John D. Rockefeller Jr., o americano mais rico do início do século passado, adquiriu uma grande área e encomendou um hotel de luxo no local. Depois, por filantropia, doou tudo ao poder público, e o patrimônio hoje é parte do Parque Nacional Grand Teton.
O hotel abriga desde 1982, sempre no final de agosto, uma conferência organizada pelo Fed. Diz a lenda que foi a forma de atrair Paul Volker, que gostava de pescaria, um atrativo do local. Como presidente do Fed, Volker levou o juro americano tão alto que criou a chamada "crise da dívida" nos países emergentes. A expectativa é de que Powell não tenha vocação para repetir essa história.