O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
Com menos capacidade de geração de empregos e constante perda de participação no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, a indústria brasileira é um dos focos da reforma tributária. O recém nomeado economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Giovani Baggio, reforça que o freio de mão do setor não começou "ontem", mas se arrasta de maneira mais profunda desde meados do ano passado e, atualmente, sofre os impactos mais diretos dos juros, da inflação e dos impostos.
O que falta para a indústria voltar a fluir?
É um momento bastante difícil pelo atual contexto da economia. Isso gera desafios de curto, médio e longo prazo e a necessidade de soluções estruturais. O mais imediato é a retomada da confiança dos empresários nos rumos da economia. A falta de confiança trava investimentos e contratações. Outra questão é o patamar dos juros (13,75% ao ano) que impacta o capital de giro, os investimentos e a demanda interna do país. Com menos demanda interna, como somos produtores de bens de capitais, aqui no RS, sentimos ainda mais essa conjuntura de baixa confiança e juros elevados.
Quais são as questões estruturais?
São quatro desafios bem delineados e que aparecem em recorrente pesquisas com empresários já há bastante tempo. O primeiro deles é o sistema tributário, que é complexo e com carga elevada que diminui a nossa competitividade, reduz a nossa produtividade. O segundo é a infraestrutura, porque as condições atuais determinam que mesmo que haja produção eficiente, quando ocorre a venda externa o produto fica mais caro. Esse transporte precisa ser melhorado, junto com questões energéticas e de comunicação. A gente precisa de anergia acessível e barata, bem como sistema de comunicação estável. O terceiro é que nada disso funcionará sem pessoas qualificadas. Isso demanda melhorias na educação que é um problema há muito tempo.
E no RS ainda existe a questão demográfica?
O Brasil está envelhecendo, o percentual de idosos se sobrepõe ao de jovens e no Estado isso está mais avançado. Quando olhamos para a pirâmide etária gaúcha, o índice de envelhecimento aqui fica cerca de dez anos acima do nacional. Significa que percentual de idosos que o RS tem hoje é semelhante ao do que o país atingirá na próxima década. Isso amplia a necessidade de qualificar mão de obra. A única saída com menos gente no mercado é a qualificação.
Nesses aspectos quais são as luzes no final do túnel?
No sistema tributário há uma unanimidade de que o sistema deve ser modificado. Grandes reformas demandam certo entendimento de todos os ramos da sociedade: empresas, consumidores e setor público. Esse amadurecimento de debates longos, a exemplo da reforma da previdência que todos sabíamos que precisava e acabou saindo. Acredito que estamos mais perto de uma reforma do sistema. A indústria gaúcha é duplamente penalizada pelos juros e o atual sistema tributário. Isso acontece por ser caracterizada pela produção de bens de capital (equipamentos e instalações que servem para a produção de outros bens ou serviços) e o atual cenário além de reduz a produtividade e a venda para outros estados que freiam os investimentos. O setor sofre com complexidades do sistema e mais ainda com a chamada cumulatividade (impostos sobre impostos) sem a devida restituição de crédito. Essa reforma que se desenha com a criação de um IVA dual resolveria esse problema, porque simplifica e retira a oneração. Por outro lado, não retira o peso da carga tributária. Isso só se faz partir do momento em que o governo passar a controlar as susas contas. suas contas.