Ao saber do surpreendente projeto de implantação de hidrovia com pedágio na Lagoa Mirim, que seria o primeiro do Brasil, a coluna buscou saber se essa poderia ser mais uma das longas novelas gaúchas.
Conforme João Acácio Gomes de Oliveira Neto, presidente da DTA Engenharia, a previsão é concluir o estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental até o final de janeiro de 2022. Caso o resultado confirme a capacidade de sustentar o projeto, afirma, a implantação pode ocorrer ainda no primeiro semestre do próximo ano.
— Estamos com o pessoal em campo terminando a batimetria (medição da profundidade ao longo do trecho) da lagoa até o Canal de São Gonçalo, passando pelo porto de Pelotas até Rio Grande. É uma hidrovia de 300 quilômetros — detalha o empresário.
Em paralelo, também começou o levantamento de cargas potenciais na região. A DTA fez Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) para realização da obra, que, segundo Acácio, será feito sob a forma de doação ao governo. Será entregue à Secretaria Nacional de Administração dos Portos e Transportes Aquaviários. Se a conclusão do estudo de viabilidade for positiva, a implantação da hidrovia, que prevê dragagem e sinalização, além da manutenção permanente, será licitada.
— A DTA vai participar, poderá ganhar ou perder. Como está interessada, faz o estudo, arca com os custos — detalha.
A coluna quis saber se não há risco de que o estudo conclua que o projeto não é viável. O empresário admitiu que sim, existe essa possibilidade. Detalhou que, se não houver volume de carga que dê perspectiva de retorno, não será possível tirar a ideia do papel.
— Quanto mais carga houver, mais barato será o pedágio. Se tiver pouca, pode ser inviável. Essa poderá ser a primeira hidrovia com pedágio do Brasil, mas não será a primeira da América Latina, já existe na Argentina, no Rio Paraná, que movimenta 100 milhões de toneladas. Lá o pedágio é de US$ 3 por tonelada.
No Uruguai, destacou, há uma região pouco desenvolvida, mas como tem vastas áreas de plantação de eucalipto, há potencial de explorar produtos florestais e clínquer (principal matéria-prima do cimento, obtida com a queima de rocha calcária, abundante na região). Também há expectativa de aumento de cultivo de soja, que, segundo Acácio, não se desenvolve mais nessa área do país vizinho por falta de logística. Essas cargas sairiam da região para o Porto de Rio Grande. Em sentido contrário, a previsão é transportar fertilizantes.
Sobre as longas novelas gaúchas, Acácio lembra que, no dia 8 de dezembro, serão completados 60 anos de um acordo bilateral entre Brasil e Uruguai, para desenvolver uma hidrovia conjunta, assinada pelo então presidente João Goulart. Está previsto até um evento do consultado do Uruguai em Porto Alegre para marcar a data.