O protesto contra a fome organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTS) na bolsa de valores foi feito no endereço errado.
Conforme os organizadores, a "invasão" da sede da B3, como se chama a bolsa de valores nacional, que funciona em São Paulo, a escolha do local se baseou no contraste entre a alta das ações e a miséria e a desigualdade que enfrenta a maioria da população.
Não há o que debater sobre o aumento da miséria e da desigualdade durante a pandemia. São fatos ancorados em dados de centenas de pesquisas quantitativas e qualitativas.
Os participantes do protesto podem não saber, mas os organizadores certamente sabem que o prédio da bolsa de valores hoje é mais um símbolo do que um lugar no qual o dinheiro troca de mãos. A troca de dinheiro no mercado financeiro, há mais de uma década, ocorre de forma virtual, ou seja, em vários locais.
Mas não é por isso que o protesto errou de endereço. Supondo que a bolsa parasse de funcionar, quebrasse e arrastasse junto todas as empresas acusadas de ter ganhos bilionários na pandemia - o que, em alguns casos, também é verdade. A fome e a miséria só aumentariam. Cresceria o desemprego.
O mercado financeiro tem inúmeros defeitos, mas não abriga só negociações nefastas. É onde empresas financiam projetos de expansão e contratação, onde parte da classe média tenta garantir um futuro menos dependente dos depauperados cofres públicos.
Essa riqueza deve ser compartilhada de forma mais equânime? Sem dúvida. Mas seria conveniente carregar os grandes ossos levados pelos manifestantes até Brasília, onde realmente se cristalizam a miséria e a fome. Ah, sim, a toda a Praça dos Três Poderes.