
A coluna fala em tese sobre problemas de acesso ao crédito há pelo quase quatro meses, sem que uma solução robusta tenha surgido. Os bilhões seguem no discurso, enquanto os reais não chegam às agências bancárias e às empresas. Por isso, vai começar a contar histórias reais de quem tropeça nos obstáculos para obter o financiamento que, no conjunto, pode fazer a diferença entre uma recessão já contratada e uma depressão ainda evitável.
Pedro Kendzierki (foto) tem uma empresa que fornece equipamentos e cursos na área de saúde e segurança para indústrias, a Volcam Treinamento Profissional. Na sexta-feira passada (12), ele recebeu a famosa "cartinha", como chama o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Trata-se do comunicado da Receita Federal que, na teoria, dá acesso a empréstimos no Pronampe, a linha de crédito desenhada para resolver o problema do acesso para pequenas e microempresas. Tem juro anual de Selic (2,25%) mais 1,25%, oito meses de carência e pagamento em 28 parcelas, com 85% assegurado pelo Fundo de Garantia de Operações (FGO). Essa regra é importante porque reduz exigências que o candidato, muitas vezes, não tem como atender. São condições que o próprio Kendzierki considera bastante razoáveis.
Com a "cartinha" em mãos, o pequeno empresário procurou seu banco, o Santander. Foi informado pela gerente que o banco decidiu não oferecer crédito com base no Pronampe por avalia que "não é viável". A coluna consultou o Santander e aguarda retorno. Diante disso, procurou a Caixa Econômica Federal, único banco que já anunciou intenção de operar com essa modalidade. Não conseguiu passar do primeiro estágio: abrir uma conta empresarial pelo site, e a instituição não permite agendar atendimento para abertura de conta.
– Sempre me preocupei em não atrasar imposto, para não ficar com cadastro negativo, que tranca tudo. Agora, chegou o dia em que poderia ser beneficiado por ter sempre feito tudo certinho. Na sexta passada, chegou o código de barras, dava acesso a R$ 85 mil, e não consigo usar. Meus negócios estão parados, até há pouco estava recebendo alguns atrasados, mas está chegando a um ponto em que o limite estoura – testemunha.
Kendzierki ponderea que as grandes empresas já garantiram seus recursos, enquanto as pequenas e microempresas seguem enfrentando uma sucessão de problemas:
– Sempre uma coisinha que atrapalhada.